02 marzo, 2004

Moçambique: Tráfico de órgãos pode estender-se a outras províncias

RADIO RENASCENÇA

Oito representantes da Igreja moçambicana admitem que existe tráfico de órgãos e de crianças em Nampula garantem que esta situação pode estender-se a outras cidades e províncias do país.

(10:55) O "Diário de Notícias" teve acesso a uma carta entregue aoPresidente da República, Joaquim Chissano, onde o Conselho Permanente da Conferência dos Institutos de Religiosos e Religiosas de Moçambique insurge-se contra a apatia das autoridades perante os indícios que apontam para uma eventual rede.

Os religiosos foram ontem recebidos por Chissano, que se comprometeu a tudo fazer para que a situação seja esclarecida.

No dia 13 de Setembro, numa denúncia assinada por vários religiosos, foram divulgados acontecimentos estranhos e preocupantes ocorridos na cidade de Nampula. Essa denúncia foi levada à Conferência Episcopal de Moçambique, que decidiu apresentar o problema ao Presidente da República, Joaquim Chissano.

Segundo a carta, a reacção das autoridades às denúncias deu-se em cinco frentes, no sentido de abafar ou esvaziar o conteúdo das mesmas.

"- A negação apressada das denúncias: em Nampula, nunca houve nem há desaparecimento de crianças ou tráfico de órgãos. As autoridades negaram-se a investigar os locais denunciados de sepulturas com pessoas a quem tinham sido retirados órgãos.

- A admissão da existência de cadáveres mutilados, mas por feitiçaria.

- As denúncias não passavam de uma tentativa para indispor a população das vizinhanças do Convento, supostamente católica, contra o governador da Província de Nampula que é muçulmano.

- A tentativa de desacreditar as denúncias e em particular Maria Elilda dos Santos. As autoridades locais, longe de verificar a veracidade das mesmas, limitaram-se a descrevê-la como desequilibrada e instigadora de revoltas na população.

- A tentativa de reduzir as denúncias a uma ambição das Irmãs Servas de Maria sobre o terreno do casal de estrangeiros denunciado, contíguo ao mosteiro.

É inegável a existência de um tráfico de órgãos a actuar na África do Sul. Em Novembro passado, a polícia federal do Brasil, em colaboração com a polícia da África do Sul, conseguiu chegar a uma quadrilha que actua em Durban e que alicia pessoas no Brasil para a compra de um dos rins. Alguns brasileiros em posse de três mil dólares foram presos no aeroporto de S. Paulo, no regresso da África do Sul. A televisão mostrou as suas incisões cirúrgicas, por onde um dos rins tinha sido retirado. Como não pensar o que essa quadrilha poderá fazer num país vizinho como Moçambique?

O assassinato da missionária brasileira da Igreja Evangélica, Doraci Edinger, morta talvez a 21 mas só encontrada a 24 de Fevereiro, com muitos mistérios, aumenta as nossas interrogações."

No final da missiva - datada de 29 de Fevereiro - dizem: "É importante vigiarmos as «nossas» crianças, mas também aquelas que são de «ninguém» e que usam os semáforos e as esquinas como morada. Embora o foco seja em Nampula, nada nos garante que não se passa o mesmo em outras cidades e províncias".

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