24 marzo, 2004

Cão Que Ladra Não Morde

CORREIO DA MANHÃ - Maputo

TRIBUNA

(SAI ÀS SEXTAS FEIRAS)

Coluna de João CRAVEIRINHA

email: craveirinhajoao@mail. pt

HIS MASTER’S VOICE

(A Voz de Seu Dono)

Cão Que Ladra Não Morde

Cão que ladra não morde diz um velho rifão mas o promotor também ladra e morde mais do que um cão

(in Poemas da Prisão de José Craveirinha)

Quando eu era miúdo, anos 50, o “show” que me dava imensa satisfação era dar a corda ao Gramophone – nosso gira-discos de então – e colocar a tocar discos de 78 rotações por minuto.

A marca discográfica HIS MASTER’S VOICE era muito popular e sua representante – a Casa A. W.Bayly fundada em 1898, em Lourenço Marques e mais tarde integrada na Minerva Central. Literalmente o nome queria dizer “A Voz do seu Dono – His Master’s Voice”. No logótipo tinha um cachorro branco (ou albino), a ladrar para dentro de um altifalante. Era a voz do seu dono.

Este “bolo dório” todo vem a propósito de alguns desmentidos que têm surgido em relação ao alegado “Tráfico de Órgãos Humanos e Desaparecimento de Crianças e de outras pessoas”. A defesa do investimento estrangeiro sobrepõe-se aos valores humanos tentando diluir este assunto macabro e tenebroso. Invocam-se números financeiros de investimento, estatísticas e projecções de viabilidade económica para Nampula, local alvo desta polémica toda do tráfico de Órgãos Humanos.

Freiras católicas espanholas e brasileira que denunciaram a possibilidade este “execrável negócio” têm sido vítimas de ameaças de morte – segundo as organizações a que pertencem.

Informações indicam que as freiras espanholas se encontram protegidas pela polícia de seu país – a

Guardia civil – que têm acordo de cooperação com o Ministério do Interior de Moçambique. E a

segurança da brasileira? Cadê a Embaixada do Brasil? Já que Moçambique é incapaz?! …

Após o recente assassinato em Nampula de uma missionária brasileira evangélica, de imediato,

surgiria uma contra-informação no sentido de não conotar com o alegado tráfico de órgãos humanos.

De facto existem contornos muito estranhos sobre este assunto. A quem interessam este encobrimento?

Fala-se de ligações internacionais desde o Brasil, África do Sul, Israel, Portugal, Espanha, Itália… tanto quanto se sabe nesses países mais desenvolvidos existem empresas/clínicas privadas de luxo para o negócio de transplante de órgãos humanos e nunca foram contactados. Pelos vistos a procura deve ser enorme para Moçambique passar a estar no roteiro internacional do Tráfico

de Órgãos Humanos, caso se confirme no nosso país.

No entanto uma questão devia ser ponto de honra – averiguar até às últimas consequências e separar o que é boato dos factos reais. È possível que se esteja a misturar rituais de feitiçaria com

extracção de órgãos para transplantes que necessitam de conhecimento cirúrgico e acondicionamento em sistema de congelamento especializados.

Na era colonial, em Lourenço Marques, crianças e adultos, desapareciam algumas delas seriam

encontradas mortas, à posteriori, no pântano da “Lagoa da Bogaria”, mas sem órgãos tais como

rins, olhos, coração, órgãos genitais, etc. (O nome bogaria surge como corruptela de porcaria por se situar na antiga lixeira hoje Ferro velho depois do aterro nos finais dos anos 60. Esse pântano encontrava-se situado depois do bairro da prostituição das Lagoas). Muitos desses desaparecimentos eram atribuídos a um português cantineiro, alcunhado de Guiguisseca, com vivenda na zona da Polana/ Museu que se dizia vendê-los (os órgãos extraídos) para a África do Sul. Os rumores já vêm de longe.

É de se bradar… NHAN-DA-Ê-YÉEE… quem nos acode?

19 marzo, 2004

Meninos de Rua Já Pagam Protecção Aos Guardas

PÚBLICO
Por DOS NOSSOS ENVIADOS ANA CRISTINA PEREIRA (TEXTO) E FERNANDO VELUDO (FOTOS), em Nampula
Sexta-feira, 19 de Março de 2004

Barriga para baixo, perna esquerda dobrada sobre o degrau superior. Jacinto Pedro dorme na escadaria da catedral de Nampula. Ao seu lado, outros rapazes embalam o sono. Para cada um, um degrau esbranquiçado. Nas ruas adjacentes, miúdos fardados caminham, passo largo, para as aulas que Jacinto Pedro nunca teve. Para a catedral nem olham. Pelo menos agora. Alguns virão mais tarde, para participar na oração que, desde segunda-feira, se faz por conta dos misteriosos desaparecimentos.

Há "os meninos da Catedral", os da Rotunda, os do Mercado do Bispo e até já houve os da Ferrovia, mas, há uns meses, uma disposição dos Caminhos de Ferro escorraçou-os. Chegam de Nacala, de Lichinga, de Monapo, de Cabo Delgado, da cidade de Nampula e dos seus arredores. Habituados ao chão, acostumam-se ao fedor da ausência de banho. Alguns são muito pequenos, outros são já grandes, como Jacinto Pedro.

As notícias sobre tráfico de pessoas e de órgãos geram apreensão acrescida entre quem tem de dormir ao relento. Jacinto Pedro e os outros rapazes da Catedral deixaram-se de perder noites, que é como quem diz, deixaram de entrar em carros de estranhos mal o sol se põe. "Quando se dorme é difícil acontecer coisa má." Os grandes agarram-se a esta crença, mas os mais pequeninos quase desapareceram do átrio da Sé.

Entre os meninos da Catedral que operam junto ao Mercado Central, na Avenida Paulo Samuel Kankhomba, ouve-se falar no rapto recente de quatro companheiros. Talvez os mesmos quatro que estão à guarda das Servas de Maria: Jó, Pina, Selemane e Ernesto, com idades compreendidas entre os dez e os onze anos. Talvez outros órfãos da guerra e da falta de cuidados médicos, miúdos com percursos semelhantes ao de Jacinto Pedro.

No princípio, o pai dizia-lhe que a guerra era "coisa vinda de fora". Coisa de "branco da África do Sul que não queria preto no poder". Depois, a guerra, que ceifou a vida a cerca de um milhão de moçambicanos, matou-lhe o pai. A mãe, essa, morreu de tuberculose, mas o nome da doença pouco lhe importa.

Moçambique é muito vulnerável a desastres naturais combinados com pobreza extrema. "O preto morre de fome, morre de malária, morre de cólera, morre com sida." Cada vez mais com sida. Uma doença que dobra a vulnerabilidade das meninas de rua, num país onde ainda há quem acredite que ter relações sexuais com uma virgem mata o vírus.

Custa-lhe desfiar lembranças. A mãe saía todos os dias de enxada à cabeça para a "machamba", mas quase não tinha terra para "machambar". Com fome e sem medicamentos, foi devorada pela doença e Jacinto Pedro ficou a olhar para trás, sem "cem contos para pagar o aluguer". Cem contos são menos de quatro euros, mas quatro euros é uma fortuna para quem só pode sonhar com fartura quando está embalado pela fantasia do sono. Foi atirado para a rua, como milhares de outros órfãos.

A mobilidade dos meninos de rua é grande. Alguns querem apenas angariar meios para um bilhete de comboio - há parentes à distância de dois euros. Marco, amigo de Jacinto Pedro, passa os dias no Mercado Central, a oferecer-se para carregar e descarregar mercadorias, para isso mesmo. Se partem dali para casa de família ou se entram em rotas de tráfico - para prostituição, escravatura ou extracção de órgãos - não se sabe. A maior parte nem tem cédula. E, como diz Elilda Santos, missionária que tem vindo a denunciar o alegado desaparecimento de pessoas e o tráfico de órgãos, "não há quem ponha anúncio na rádio" por causa deles, como acontece com quem tem família.

Os meninos guardam-se uns aos outros. Só. E a Sé, diz Jó, "cheira a morto". Os quatro miúdos que estão com as Servas de Maria saíram de lá quando um dos seus amigos sucumbiu não se sabe às mãos de quem. Mudaram-se para a Praça da Liberdade, conhecida por Rotunda do Hospital.

"Na rotunda, é preciso pagar dez contos [cerca de 40 cêntimos] para dormir ao pé do guarda", conta Jó. Como muitas vezes têm de remexer o lixo para enganar o estômago, tal quantia soava-lhes, com frequência, a impossível. Tantas vezes, tantas, acabavam por dormir nos jardins da avenida. A pensar "nos espíritos dos falecidos, nas 'sofrências' deles". E nas suas próprias "sofrências", claro.

A Avenida Paulo Samuel Kankhomba, que termina na "rotunda", é um rodopio. No ar, o cheiro acre de transpirações incontidas, o odor dos fritos, dos animais. As cores garridas das capulanas, relógios e demais produtos em exposição. Aqui tudo se vende - aspirinas avulso, canetas a meia tinta, pintos, sapatos em segunda mão, jornais da véspera ou mesmo da antevéspera. Meninos como Jó oferecem-se para "guardar" carros, pedem moedas, tentam vender pequenos nadas.

Foi neste corre-corre que, um dia, os quatro pequenos deram pela falta de "Sonki", de 11 anos. Dizem que foi raptado por um branco num carro de vidros fumados. Assustados como andam, desconfiam da própria sombra. Veio "um branco num carro perguntar se a gente queria pasta para ir à escola". E eles correram para longe, não fosse ele um raptor. Como o homem voltou acompanhado de dois amigos, encheram-se de medo e fizeram-se à estrada. Foram para o mosteiro das Servas de Maria, a uns dez quilómetros.

Os quatro meninos moram agora com as irmãs. Estão a aprender a ler e a escrever, como outros 60 órfãos que elas acolhem. "Se uma pessoa me pega e me mata eu volto para matar ela!", promete Jó, de olhos mais abertos do que a boca. "Eles, os brancos, querem a nossa cabeça, o nosso coração, o nosso sexo." E eles, os meninos de rua, querem o sossego de um lugar a que possam chamar lar.

Em Moçambique - Curandeiros não utilizam órgãos humanos

...e não há dados para dizer que a medicina tradicional não cura SIDA.

A chefe do Departamento de Medicina Tradicional no Ministério da Saúde (MISAU), Adelaide Bela Agostinho, em relação a temática dos órgãos humanos e o HIV/SIDA vis-a-vis a medicina afirma que, nos estudos feitos e nas informações em seu poder, nada indica que os curandeiros estejam a usar órgãos humanos no seu trabalho.
Sobre o HIV/SIDA, Bela refere não ter dados para dizer que os médicos tradicionais curam ou não a SIDA. `Não tenho dados para dizer que os médicos tradicionais não tratam a SIDA´.

O que podemos dizer naquilo que respeita á área da medicina tradicional, em termos de tratamento de doenças, é que os médicos tradicionais nunca se fez referência ao uso de órgãos humanos. O que nós sabemos é que os praticantes da medicina tradicional apenas utilizam plantas medicinais, fazendo combinações de várias plantas.

Há casos em que utilizam partes de alguns animais não para o tratamento de certas doenças, mas como crença para ter poder sobrenatural e sorte na vida. Não se pode falar de órgãos humanos para tratamento de doenças. Desde que se fala da medicina tradicional, nunca ouví algum praticante a falar de órgãos humanos.

Nem nas zonas mais remotas de Moçambique, ouví tal referência. Nunca ouví que se pode utilizar o coração, o dedo ou qualquer outro órgão.

Não façamos confusão com o facto de os praticantes da medicina tradicional usarem espíritos. O que nós podemos encontrar são praticantes que dizem que trabalham com os espíritos de seus avôs ou um ancestral da sua família, mas isso não implica que estejam a usar órgãos humanos ou parte de um ser humano para tratar uma doença...

fonte: SAVANA

Em Moçambique - Curandeiros não utilizam órgãos humanos

Em Moçambique - Curandeiros não utilizam órgãos humanos

...e não há dados para dizer que a medicina tradicional não cura SIDA.


A chefe do Departamento de Medicina Tradicional no Ministério da Saúde (MISAU), Adelaide Bela Agostinho, em relação a temática dos órgãos humanos e o HIV/SIDA vis-a-vis a medicina afirma que, nos estudos feitos e nas informações em seu poder, nada indica que os curandeiros estejam a usar órgãos humanos no seu trabalho.
Sobre o HIV/SIDA, Bela refere não ter dados para dizer que os médicos tradicionais curam ou não a SIDA. `Não tenho dados para dizer que os médicos tradicionais não tratam a SIDA´.
O que podemos dizer naquilo que respeita á área da medicina tradicional, em termos de tratamento de doenças, é que os médicos tradicionais nunca se fez referência ao uso de órgãos humanos. O que nós sabemos é que os praticantes da medicina tradicional apenas utilizam plantas medicinais, fazendo combinações de várias plantas.
Há casos em que utilizam partes de alguns animais não para o tratamento de certas doenças, mas como crença para ter poder sobrenatural e sorte na vida. Não se pode falar de órgãos humanos para tratamento de doenças. Desde que se fala da medicina tradicional, nunca ouví algum praticante a falar de órgãos humanos.
Nem nas zonas mais remotas de Moçambique, ouví tal referência. Nunca ouví que se pode utilizar o coração, o dedo ou qualquer outro órgão.
Não façamos confusão com o facto de os praticantes da medicina tradicional usarem espíritos. O que nós podemos encontrar são praticantes que dizem que trabalham com os espíritos de seus avôs ou um ancestral da sua família, mas isso não implica que estejam a usar órgãos humanos ou parte de um ser humano para tratar uma doença...

fonte: SAVANA

Meninos de Rua Já Pagam Protecção Aos Guardas

PÚBLICO

Meninos de Rua Já Pagam Protecção Aos Guardas
Por DOS NOSSOS ENVIADOS ANA CRISTINA PEREIRA (TEXTO) E FERNANDO VELUDO (FOTOS), em Nampula

Barriga para baixo, perna esquerda dobrada sobre o degrau superior. Jacinto Pedro dorme na escadaria da catedral de Nampula. Ao seu lado, outros rapazes embalam o sono. Para cada um, um degrau esbranquiçado. Nas ruas adjacentes, miúdos fardados caminham, passo largo, para as aulas que Jacinto Pedro nunca teve. Para a catedral nem olham. Pelo menos agora. Alguns virão mais tarde, para participar na oração que, desde segunda-feira, se faz por conta dos misteriosos desaparecimentos.

Há "os meninos da Catedral", os da Rotunda, os do Mercado do Bispo e até já houve os da Ferrovia, mas, há uns meses, uma disposição dos Caminhos de Ferro escorraçou-os. Chegam de Nacala, de Lichinga, de Monapo, de Cabo Delgado, da cidade de Nampula e dos seus arredores. Habituados ao chão, acostumam-se ao fedor da ausência de banho. Alguns são muito pequenos, outros são já grandes, como Jacinto Pedro.

As notícias sobre tráfico de pessoas e de órgãos geram apreensão acrescida entre quem tem de dormir ao relento. Jacinto Pedro e os outros rapazes da Catedral deixaram-se de perder noites, que é como quem diz, deixaram de entrar em carros de estranhos mal o sol se põe. "Quando se dorme é difícil acontecer coisa má." Os grandes agarram-se a esta crença, mas os mais pequeninos quase desapareceram do átrio da Sé.

Entre os meninos da Catedral que operam junto ao Mercado Central, na Avenida Paulo Samuel Kankhomba, ouve-se falar no rapto recente de quatro companheiros. Talvez os mesmos quatro que estão à guarda das Servas de Maria: Jó, Pina, Selemane e Ernesto, com idades compreendidas entre os dez e os onze anos. Talvez outros órfãos da guerra e da falta de cuidados médicos, miúdos com percursos semelhantes ao de Jacinto Pedro.

No princípio, o pai dizia-lhe que a guerra era "coisa vinda de fora". Coisa de "branco da África do Sul que não queria preto no poder". Depois, a guerra, que ceifou a vida a cerca de um milhão de moçambicanos, matou-lhe o pai. A mãe, essa, morreu de tuberculose, mas o nome da doença pouco lhe importa.

Moçambique é muito vulnerável a desastres naturais combinados com pobreza extrema. "O preto morre de fome, morre de malária, morre de cólera, morre com sida." Cada vez mais com sida. Uma doença que dobra a vulnerabilidade das meninas de rua, num país onde ainda há quem acredite que ter relações sexuais com uma virgem mata o vírus.

Custa-lhe desfiar lembranças. A mãe saía todos os dias de enxada à cabeça para a "machamba", mas quase não tinha terra para "machambar". Com fome e sem medicamentos, foi devorada pela doença e Jacinto Pedro ficou a olhar para trás, sem "cem contos para pagar o aluguer". Cem contos são menos de quatro euros, mas quatro euros é uma fortuna para quem só pode sonhar com fartura quando está embalado pela fantasia do sono. Foi atirado para a rua, como milhares de outros órfãos.

A mobilidade dos meninos de rua é grande. Alguns querem apenas angariar meios para um bilhete de comboio - há parentes à distância de dois euros. Marco, amigo de Jacinto Pedro, passa os dias no Mercado Central, a oferecer-se para carregar e descarregar mercadorias, para isso mesmo. Se partem dali para casa de família ou se entram em rotas de tráfico - para prostituição, escravatura ou extracção de órgãos - não se sabe. A maior parte nem tem cédula. E, como diz Elilda Santos, missionária que tem vindo a denunciar o alegado desaparecimento de pessoas e o tráfico de órgãos, "não há quem ponha anúncio na rádio" por causa deles, como acontece com quem tem família.

Os meninos guardam-se uns aos outros. Só. E a Sé, diz Jó, "cheira a morto". Os quatro miúdos que estão com as Servas de Maria saíram de lá quando um dos seus amigos sucumbiu não se sabe às mãos de quem. Mudaram-se para a Praça da Liberdade, conhecida por Rotunda do Hospital.

"Na rotunda, é preciso pagar dez contos [cerca de 40 cêntimos] para dormir ao pé do guarda", conta Jó. Como muitas vezes têm de remexer o lixo para enganar o estômago, tal quantia soava-lhes, com frequência, a impossível. Tantas vezes, tantas, acabavam por dormir nos jardins da avenida. A pensar "nos espíritos dos falecidos, nas 'sofrências' deles". E nas suas próprias "sofrências", claro.

A Avenida Paulo Samuel Kankhomba, que termina na "rotunda", é um rodopio. No ar, o cheiro acre de transpirações incontidas, o odor dos fritos, dos animais. As cores garridas das capulanas, relógios e demais produtos em exposição. Aqui tudo se vende - aspirinas avulso, canetas a meia tinta, pintos, sapatos em segunda mão, jornais da véspera ou mesmo da antevéspera. Meninos como Jó oferecem-se para "guardar" carros, pedem moedas, tentam vender pequenos nadas.

Foi neste corre-corre que, um dia, os quatro pequenos deram pela falta de "Sonki", de 11 anos. Dizem que foi raptado por um branco num carro de vidros fumados. Assustados como andam, desconfiam da própria sombra. Veio "um branco num carro perguntar se a gente queria pasta para ir à escola". E eles correram para longe, não fosse ele um raptor. Como o homem voltou acompanhado de dois amigos, encheram-se de medo e fizeram-se à estrada. Foram para o mosteiro das Servas de Maria, a uns dez quilómetros.

Os quatro meninos moram agora com as irmãs. Estão a aprender a ler e a escrever, como outros 60 órfãos que elas acolhem. "Se uma pessoa me pega e me mata eu volto para matar ela!", promete Jó, de olhos mais abertos do que a boca. "Eles, os brancos, querem a nossa cabeça, o nosso coração, o nosso sexo." E eles, os meninos de rua, querem o sossego de um lugar a que possam chamar lar.

18 marzo, 2004

Nampula Enfia-se no Mato com Medo dos "Branco"


PUBLICO
Por ANA CRISTINA PEREIRA em Nampula
Quinta-feira, 18 de Março de 2004

Uma tigela de amendoins, outra de água com terra pousada no fundo, duas crianças pequenas. Não há mais nada para levar à boca. Já ontem foi assim. "Sorte um" e "Sorte dois", como lhes chama o pai, moram na África que dói, a dos meninos barrigudos e indiferentes às moscas.

Mário foi raptado e espancado quando andava a apanhar lenha.
Conseguiu escapar à corda, ficou prisioneiro do medo. Há cinco meses que anda escondido, saudoso dos pequenos. Paz só "quando o branco for matar irmãos dele para terra dele".

Trinta anos depois da Revolução de 25 de Abril de 1974, o medo dos brancos regressa em força. No centro da cidade de Nampula, os olhos fixam-se nos movimentos de qualquer pele clara. "Eles vem roubar a gente, porque a nossa pele é muito dura!", apregoa uma menina de 12 anos, junto à catedral. Nas zonas rurais, como Mamoa e Manicopo, mulheres e crianças enfiam-se no mato mal um branco se aproxima.
A vida nunca foi fácil para os nativos do norte de Moçambique. Mas tudo se agravou nos

últimos meses, recheados de relatos sobre pessoas que desaparecem e cadáveres que aparecem mutilados. As denúncias - feitas pelas Servas de Maria com base em histórias como a de Mário - vão desembocar num fazendeiro vindo da vizinha África do Sul: Gerry O'Conner, um branco que jura inocência, com quem as missionárias dividem parte de uma estrada. E, de repente, é como se todos os brancos do mundo fossem suspeitos.

Esta é a história de Mário, um dos protagonistas dos crimes que estão a gerar a psicose. Convencido de que falar num país cravado pela corrupção é um risco, balança como uma criança entre o medo de ser atacado por quem acusa e o medo de ver os filhos morrerem de fome.

Mário só tem 22 anos, mas ninguém o trata por jovem num país onde a esperança média de vida pouco ultrapassa os 40 anos. Já é um homem de família. "Era órfão, arranjei esposa cedo para me socorrer. A minha mulher está sozinha, os meus filho a sofrer e por isso me trabalha tanto a cabeça."

Há cinco meses que não dorme em casa. Há cinco meses que só vê a mulher e os filhos quando vai acompanhar procuradores ou jornalistas que andam a investigar os estranhos desaparecimentos dos nativos. Há cinco meses que não ajuda a angariar alimentos para os seus meninos. "Tou cansado e o pior é que não vejo resultado", lamenta-se, uma e outra vez, a caminho de palhota que herdou dos pais.

Da estrada que liga a cidade ao aeroporto parte uma via de terra batida que obriga a
minuciosas manobras. A residência de Mário fica nessa direcção, entre coqueiros, bananeiras e plantações de amendoins. A mesma direcção da quinta de Gerry. "Bateram-me, levaram-se até uma das casa do branco", aponta. Tiraram-lhe a roupa, penduraram-no de cabeça para baixo com uma corda e ele gritou e gritou e esperneou e foi salvo por três senhores. Ou quase. "O estupor continua a me persegui."

Depois do macabro episódio, Mário conseguiu chegar à sua palhota com duas divisões que mais parecem um corredor despojado. Sem roupa, com os vergões bem marcados na pele nua. Foi pedir ajuda ao convento das Servas de Maria - pronto socorro da população em caso de dores de alma ou de "doença mesmo". A quem mais?
O relato sai-lhe cortado, mas firme. "Quando ia a sair, encontrei esse guarda alegado funcionário do sul-africano] que me capturou com cinco polícias." Foi como se lhe tivessem tirado o chão. Ficou refugiado três meses "nas irmã", a ver se o perigo "sumia". Ao regressar a palhota, tornou a sentir-se ameaçado pela presença dos guardas, voltou a esconder-se - desta feita num bairro de argila e colmo da periferia da cidade. "Ele quer me matar."

No caminho picado que conduz à família de Mário, há diversas sepulturas clandestinas e inúmeros vivos amedrontados. Antes de o PÚBLICO visitar "Sorte Um" e "Sorte Dois" - os filhos do camponês - é preciso pedir autorização ao chefe da aldeia, Papá Cucola. O velho Papá Cucola, que quase só fala emakhua, não só autoriza como participa no périplo que trará vozes que confirmarão o relato de Mário e acrescentarão outros. "Para dar confiança."

Mulheres e crianças fogem ao ver os "branco" e Cucola ri-se. "Não se preocupem! São brancos, mas não são aqueles!", informa Mário. A cena repete-se a cada confronto e termina, sempre, com gargalhadas de alívio. "Se não tivesse vindo com preto, não falava com ninguém", rise Mário.

Todos apontam para a África do Sul O missionário comboniano Arlindo Pinto diz que o medo nunca abandonou a província de Nampula. Depois da guerra colonial veio a guerra civil e a conquista da paz também "ensinou que é mais perigoso falar". A menos que se esteja em boa companhia, o silêncio é uma certeza.

Nas casas de cana ou nas bermas, quem se atreve a falar aponta o dedo a uma casa. Cucola bem queria deixar de ter o sul-africano por vizinho. Ainda na terça-feira foi admitir isso mesmo à Comissão Parlamentar que está em Nampula desde esse dia. O fazendeiro criou um aviário em troca da concessão de uma área de 300 hectares. O terreno, cedido pelo Município de Nampula, estava na família de Cucola há muitos anos. Mas esta, diz, é outra história. Uma história que não faz desaparecer crianças, nem aparecer cadáveres.

As crenças ancestrais nunca abandonaram Moçambique. O conflito sangrento que matou o pai de Mário é prova disso mesmo. Os guerreiros da Renamo usavam curandeiros para preparar o corpo antes de cada batalha. As ervas deveriam agir como uma espécie de colete mágico à prova de bala. Porém, diz a irmã Juliana, há 30 anos em Moçambique, o uso de órgãos humanos é bastante raro: "Só em cerimónias muito especiais, como a iniciação de um feiticeiro." E, nesses casos, esclarece também o sogro de Mário, usam-se "membros da família". "Isto [as acusações recentes de tráfico de órgãos] não é coisa de curandeiro. São assassinos mesmo."

A África do Sul viveu, nos anos 80 e 90, uma autêntica caça às bruxas. Mais de 400 pessoas terão sido assassinadas por populares em fúria. Há toda uma tradição desviante de usar órgãos humanos - genitais, córneas, corações - para melhorar a saúde, a fertilidade ou a prosperidade. E, segundo um relatório da Organs Watch, essas práticas renasceram desde a transição democrática. E é para lá, para a África do Sul, que os aldeões, que não conhecem os relatórios internacionais, apontam. Um a um. Mário, esse, já só quer voltar a casa. Ir à lenha. Ir à "machamba". "Os meninos só têm amendoins para comer."

17 marzo, 2004

Lentitud en las investigaciones sobre el asesinato de misionera en Mozambique que podría estar relacionado con una red de tráfico de órganos

Rebelión

La Federación Luterana Internacional (LWF) cree que las autoridades de Mozambique no manifiestan interés en agilizar las investigaciones sobre el asesinato en este país de la de la misionera Doraci Edinger. Aunque todavía no se ha demostrado la vinculación entre la muerte de Doraci Edinger y la red de tráfico de órganos, los religiosos están convencidos de ello. La LWF ha pedido al ministro mozambiqueño de Interior que estudie el caso, ya que en alguna de las declaraciones se implica a oficiales de policía de Nampula en la red de tráfico.

El cuerpo de Edinger fue encontrado el 23 de febrero en su apartamento de Nampula. La misionera brasileña había expresado, en varias ocasiones, que su seguridad corría peligro desde el momento en el que apoyó a las monjas católicas en la denuncia sobre una red de tráfico de órganos humanos y niños.

El tema saltó a finales del 2003, cuando Maria Elilda dos Santos presentó un informe a la Liga de Derechos Humanos de Mozambique, en el que se describían a personas sospechosas de matar a niños pobres para vender sus órganos a sudafricanos, a partir de ese momento Maria Elilda dos Santos y otras religiosas como la asesinada Edinger , comenzaron a ser amenazadas.

Elilda investigó el primer caso de tráfico de órganos conocido -una chica de 12 años que había desaparecido en octubre de 2002-. Su cuerpo fue encontrado sin corazón, pulmones ni riñones. El caso fue notificado a la policía, pero realizó ninguna investigación y el caso quedó archivado. Elilda y cinco niños recibieron amenazas de muerte y tuvieron que ser escondidos.

Las monjas, sobre todo españolas, en el monasterio de Matter Dei, siguen recibiendo amenazas de muerte y continúan investigando la red de tráfico de órganos de Nampula. Se han recogido más testimonios supervivientes y fotografías de niños asesinados a los que le han sido extirpados algunos órganos. El mes pasado, cuatro monjas pudieron escapar de un ataque armado después de presentar nuevas pruebas ante las autoridades.

Después de que el 25 de febrero el asistente del Procurador General del Estado, Rafael Sebastião, declarase que tras las primeras investigaciones no se habían encontrado evidencias de tráfico de órganos, los religiosos han decidido acudir al Presidente de Mozambique, Joaquim Chissano.

16 marzo, 2004

Há extracção de órgãos para efeitos de feitiçaria

Refere Almerino Manhenje, Ministro do Interior.

O Ministro do Interior, Almerino Manhenje, reconheceu ontem em Maputo, a existência nos últimos tempos, de casos de extracção de órgãos humanos para fins de feitiçaria.

O titular da pasta do Interior, que falava na cerimónia de abertura do curso de subcomité de formação da SARPCCO (Organização dos Chefes da Polícia dos Países da África Austral) que irá decorrer até próxima sexta-feira, sob o tema `violência contra a mulher e criança´, apontou que o nosso país registou recentemente três casos de assassinato, para a extracção de órgãos humanos, alegadamente para fins de feitiçaria, situações que ocorreram nas províncias de Nampula, Sofala e Manica.

Igualmente, de acordo com Almerino Manhenje, têm sido notificados casos de tráfico de menores e mulheres para a vizinha África do Sul, onde as pessoas são usadas na prostituição e no trabalho infantil.

Quanto à situação de tráfico de órgãos humanos e de menores em Nampula, o ministro disse que o assunto ainda está a ser investigado e as conclusões serão tornadas públicas...

fonte: NOTÍCIAS

Tráfico pode envolver «gente de fora»

DIÁRIO DE NOTÍCIAS – 16.03.2004

ANA MAFALDA INÁCIO (textos) RODRIGO CABRITA (fotos
O procurador-geral da República de Moçambique está convicto da existência de fortes indícios de tráfico de menores no país e coloca mesmo a hipótese de haver uma rede a operar que envolve pessoas de fora. «O tráfico não se faz de Moçambique para Moçambique», comentou ontem ao DN, admitindo a realização de mais interrogatórios e até de detenções.

Quanto a tráfico de órgãos, Joaquim Madeira ressalva estarmos perante duas situações distintas e relembra que o relatório elaborado com base na exumação de quatro corpos em Nampula não revelou qualquer indício neste aspecto. No entanto, é peremptório: «pelo facto de poder haver corpos mutilados não quer dizer que haja tráfico. Temos exemplos de mutilações usadas para feitiçaria. Mutilar não é traficar. O tráfico será uma situação posterior». Um e outro caso estão a ser investigados por uma equipa da unidade anti-corrupção da procuradoria, que deverá ser reforçada com um sociólogo e um antropólogo.

Ontem, o procurador recebeu a informação de que foram descobertas em Nampula «mais duas campas, na zona do aeroporto, cujos corpos poderão vir a merecer exumação para uma investigação cabal». Para Joaquim Madeira, tal é sinal de que se está a trabalhar e as investigações irão demorar o tempo necessário, «não se colocando de parte todos os casos que possam a vir ser investigados».

NACALA

No que toca ao tráfico de menores, Joaquim Madeira confirmou terem sido detectados locais na província de Nampula onde se guardariam crianças que seriam depois transportadas para outros sítios, nomeadamente por via marítima. «Encontrámos zonas onde eram guardadas crianças, numa cidade perto de Nacala, embora seja uma situação que não posso revelar já. Mas estou convicto de que há fortes indícios de tráfico de menores, as pistas devem ser seguidas».

De acordo com o procurador, os locais eram vigiados por guardas, «que serão interrogados, podendo haver algumas detenções». Madeira vai mais longe e coloca mesmo a hipótese de «haver uma rede que envolva pessoas de fora. Pelo menos é aquilo que nos é dado a perceber. Temos relatos de crianças que nos dizem que foram levadas para Nacala para partir em barcos, certamente que não era para Maputo», refere. E é neste sentido que admite também solicitar ajuda internacional, «não numa fase preliminar, porque que esta deve ser feita a nível local, mas mais para a frente, se tivermos que coordenar a detenção de alguém que envolva a Interpol. Aí, há que accionar todas as convenções de crime transnacional.»

Hoje, o magistrado encontra-se com o seu homólogo sul-africano, aproveitando uma reunião de outro âmbito para discutir a questão do tráfico. «Há situações que podem começar cá e terminar lá e isso preocupa-nos. Há tempos tivemos o caso de uma criança que desapareceu de Maputo e foi encontrada na África do Sul.» Joaquim Madeira deixou ainda claro que a acusação sobre o tráfico de menores, surgida na sequência das denúncias da missionária brasileira Elilda dos Santos, não envolve só o casal sul-africano de Nampula, Gerry e Tania O'Connor, sendo «bem mais abrangente». Aliás, «o que sustenta este processo são casos que têm maior substância do que os imputados ao casal», garante. «O tráfico não é uma prática generalizada em Moçambique, é uma questão mundial».

15 marzo, 2004

Alegado tráfico de órgãos humanos

JORNAL DIGITAL

Comissão parlamentar moçambicana chega a Nampula para investigar denúncias
2004-03-15 14:36:05

Maputo - Para investigar as denúncias sobre o alegado tráfico de órgãos humanos em Moçambique, chegou esta segunda-feira à província de Nampula uma delegação parlamentar de deputados moçambicanos, que permanecerá no território durante duas semanas.

A deslocação surge depois do líder da oposição, Afonso Dlhakama, ter proposto ao Parlamento moçambicano a criação de uma comissão conjunta para investigar o alegado tráfico de órgãos, que classificou de «tragédia nacional».

A delegação pretende falar com o casal de estrangeiros oriundo do vizinho do Zimbabué, que há cerca de um mês enviou uma carta à Assembleia da República (AR) a pedir protecção à «honra e dignidade» do seu bom nome, disse à RDP/África o deputado Rui de Sousa, da Resistência Nacional de Moçambique (Renamo).

Em declarações à mesma emissora, o deputado do maior partido da oposição moçambicana adiantou ainda que a comissão, que integra também elementos da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), deverá reunir-se com o procurador provincial, com as missionárias que têm denunciado o alegado tráfico e com familiares das supostas vítimas.

12 marzo, 2004

Conclusões válidas para 4 corpos exumados

VERTICAL – 12.03.2004

(Maputo) O Procurador-geral da República, Joaquim Madeira, disse ontem ao parlamento que as conclusões apresentadas recentemente pela sua instituição segundo as quais não há evidências de mutilação de órgãos humanos em Nampula só são validas em relação aos quatro corpos exumados.

Madeira fez esse pronunciamento em resposta à inquietação dos deputados sobre o alegado tráfico de crianças e de órgãos humanos. Este assunto marcou o informe do PGR que durante dois dias esteve no parlamento a falar sobre a administração da Justiça no País.

Falando em nome da bancada da FRELIMO, a deputada Açucena Duarte manifestou profunda indignação e preocupação com as informações que dão conta da existência de redes que se dedicam a rapto de menores e tráfico de órgãos humanos em Nampula, Manica, cidade e província de Maputo e outros pontos do País. “A nossa posição sobre este assunto é clara. Nós estamos preocupados e queremos, a todo o custo, que se concluam as investigações para que os possíveis implicados sejam julgados e condenados pela justiça”.

Segundo ela, a gravidade do assunto exige serenidade e seriedade de todos na sua abordagem.

Outros aspectos que aparentemente não inquietaram os deputados da FRELIMO são as investigações morosas e não concluídas, como acontece no “caso Siba-Siba Macuacua”, “caso Pedro Langa” ou no “caso Armando Ossufo”.

“Os cidadãos deste país exigem o cumprimento escrupuloso dos prazos legais e jamais aceitarão que os órgãos de administração da justiça, reiteradamente, desrespeitem os prazos de prisão preventiva, de proferição duma sentença ou de cumprimento de pena”, disse açucena Duarte

Por seu turno, Manuel Frank, da RENAMO-União Eleitoral, disse que o Informe do PGR deu a entender que os problemas dos cidadãos estão a ser resolvidos, enquanto na verdade não estão. Acrescentou que, a “linha verde” disponibilizada para os cidadãos queixarem-se junto do PGR não está ao alcance de todos; beneficia os cidadãos de Maputo.

Sobre o tráfico de menores, Frank disse que a PGR trata o caso como se de um romance se tratasse. Segundo ele, não basta criar comissões de investigação, é preciso agir no momento próprio.

Um outro deputado da RUE, também mostrou-se preocupado com os casos Siba-Siba, Armando Ossufo, Pedro Langa, fuga de Anibalzinho. E disse que admira como estes casos nem sequer foram mencionados no informe do PGR.

PGR

Antes de responder às várias perguntas, o PGR afirmou que o tom das intervenções dos deputados confirma que a democracia está a crescer no País.

Conforme o PGR, o caso de alegado tráfico de menores e órgãos humanos está a dar um impacto não real da situação criminal do país. Ele mostrou-se indignado por não ter recebido nenhuma informação sobre o assunto por parte dos deputado do ciclo eleitoral de Nampula. “Se o primeiro caso dizem que é de 2002, porque os deputados não falaram? E acrescentou que só este ano é que teve informação do assunto via, Liga dos Direitos Humanos.

No dizer do PGR, para melhor investigação do assunto é necessário que as instituições da justiça se unam. Este não é um problema sem solução. “A Polícia, o Ministério Público todos temos que juntar esforços para investigar este assunto. Não precisamos que venham estrangeiros investigar o alegado tráfico de menores e órgãos no nosso País”.

Sobre o “caso Siba-Siba”, Joaquim Madeira disse que já foram ouvidas 59 pessoas. As diligências continuam e algumas delas estão a ser feitas fora do País. Adiantou que no estrangeiro, sem mencionar os países, está-se a accionar mecanismos para que os ministérios públicos locais possam prosseguir com as investigações.

Quanto ao “caso Pedro Langa”, o PGR avançou que houve uma detenção, mas depois de passado o tempo de prisão preventiva o implicado foi absolvido.

Sobre o assassinato de Armando Ussufo, Madeira disse que em conexão com esse caso estão detidas pito pessoas e o processo encontra-se em andamento.

A cerca dos carros quentes de Cabo Delgado, Madeira comentou que o Ministério Público interpôs um recurso ao Supremo por não ter ficado satisfeito com a sentença do caso que absolveu os acusados . (Arménia Mucavele)

IRMÃ ELILDA MOVE PROCESSO CONTRA SUPOSTOS JORNALISTAS

WAMPHULA FAX – 12.03.2004

AGREDIDA EM SUA CASA EM NAMPULA

A Irmã Maria Elilda dos Santos, natural de São Paulo-Brasil, em serviço na Arquidiocese de Nampula que na passada terça-feira foi agredida por dois supostos jornalistas espanhóis na residência das irmãs de Imaculada Conceição, acaba de instaurar um processo, pelo crime de intromissão abusiva em casa alheia. A Irmã, que despoletou o caso de tráfico de órgãos humanos confirmou ter sido agredida com violento empurrão na porta do seu quarto, por volta das 9horas e 40 minutos de terça-feira, na casa das Irmãs de Imaculada Conceição, no bairro de Mutauanha, para onde se refugiara por questões de insegurança no convento. Contudo, em entrevista que nos concedeu ao princípio da manhã de ontem, ela disse que já se sentia um pouco melhor.

Contactado a propósito, Xavier Tocoli, director da Ordem e Segurança Pública, referindo-se aos agressores da freira, disse tratar-se de Emaculada Navarro, jornalista da Estação Radiofónica de Madrid e o médico-legista José Miguel, provenientes daquele país europeu e que vinham reportar assuntos relacionados com o alegado tráfico de menores e órgãos humanos na província de Nampula. Revelou ainda terem regressado no mesmo dia, a mando da Embaixa-da Espanhola, devendo aguardar desfecho do caso no seu país. Porém, em nota de imprensa recebida na nossa redacção, Gabinete de Informação condena atitude de tais cidadãos por se terem feito passar por jornalistas bem como instituições estrangeiras, com a devida autorização para trabalharem em Nampula.

Documentation on Brazilian Lutheran Missionary Doraci Edinger

12.03.2004
DOCUMENTATION: Statements from Brazilian and Mozambican Lutheran Churches on Murdered Woman Missionary Doraci Edinger

GENEVA, 12 March 2004 (LWI) – News about the February 21 murder of Brazilian woman missionary Doraci Edinger in Nampula, Mozambique, was received with great shock in the Lutheran communion.

Lutheran World Information published a news article March 2, about Edinger’s case: Cf. LWI 2004-023 – "LWF Urges Mozambican Authorities to Expedite Investigation into Murder of Brazilian Lutheran Missionary." LWI received the following additional documentation from the Evangelical Church of the Lutheran Confession in Brazil, and Evangelical Lutheran Church in Mozambique .

Documentation 1: Statement by IECLB President, Rev. Dr Walter Altmann during a press conference in Porto Alegre, March 3

"1 - I was charged with the task – the most difficult one of my entire life – of accompanying the early stages of the police investigation in Mozambique and ensuring that the necessary measures were taken. I did so in consultation with representatives of the Evangelical Lutheran Church in Mozambique (ELCM), as well as with those from churches supporting ELCM's work through its Joint Mission Board, from the Lutheran World Federation (LWF), and Brazilian Embassy in Maputo. I also went with the chief of the investigation department Mr Carlos Manuesse, and Nampula’s official medical examiner to the scene of the crime, to the mortuary, which we requested to arrange for repatriation, to the military hospital, where Sister Doraci's body was being kept, and to the apartment where she lived and where the crime was committed.

2 – I would like to express my deepest condolences and, in a spirit of solidarity, convey my sympathy to the family members. They have not only lost a very dear family member to tragic circumstances, they are suffering as a result of the considerable delays in repatriation of her remains. As soon as I returned, as was appropriate, I paid a visit to her family in my pastoral capacity. The fact that Sister Doraci lost her life in service to the Kingdom of God is of little consolation at the moment, but it will, in time, help to ease the sorrow. By devoting her life to the poorest and most downtrodden of this world, Sister Doraci made a monumental accomplishment. She chose to follow this life-long calling, and she remained strong in her decision to do so, even in the face of danger.

3 – In addition to the IECLB and ELCM, the worldwide Lutheran family and ecumenical sister churches are mourning the death of Sister Doraci. Her murder has also dealt a serious blow to the cause of international solidarity among people. As a sign of support for international solidarity and communio, Ms Ester Antonio Cossa from Maputo, representing the ELCM, and Bishop Clifford M. Molefe from South Africa will attend the *funeral as representatives of the mission board that supports ELCM’s work.

4 – With the permission of the chief of the investigation department, and Nampula’s Public Prosecutor, I took some of Sister Doraci's personal effects with me and passed them on to her family. I also brought a photo report about the work she did in 2003. She had carefully compiled this report for her church, the IECLB, to give to me to take along. We will copy it onto a CD or make it available in some other ways to our congregations. This way, Sister Doraci’s life witness can serve as an inspiration to many others to carry out the gospel mission.

5 – Sister Doraci was brutally murdered between 8.00 and 8.30 am on Saturday, February 21. The investigation at the crime scene and autopsy have provided indications regarding the nature of the crime. Neither robbery nor rape occurred. It appears that Sister Doraci let the murderer into her home without suspecting the person’s intentions, probably because she knew the person. She was killed by three hammer blows to the head.

6 – Since it was determined that neither robbery nor rape occurred, it seems that the actual motive for the murder was to eliminate her. Why? I am convinced that the immediate intention of the murderer or that of the person who ordered her to be killed was to prevent the deaconess from meeting her church president; she had planned to pick me up at the Beira Airport on February 24. The murderer or the person who ordered her to be killed must have known or suspected that she had something very serious to tell me, which, from that person’s point of view, should not have been disclosed. What was Sister Doraci planning to tell me? I don’t know, because we can no longer meet. I hope that the criminal investigation department will be able to bring to light the answer to this question.

7 –The IECLB, the Lutheran World Federation and Brazilian government have demanded a thorough investigation into the crime, its perpetrator and motive. I am convinced that the investigation already underway in Nampula has acquired considerable leads toward shedding light on the crime.

8 –The murder of Sister and missionary Doraci Edinger is the most horrific event that has ever taken place in the life of the IECLB. At the same time, however, although Sister Edinger’s work helping the poor congregations in Mozambique, whom she loved so much, was brought to an abrupt end by her death, her work represents the noblest side of the IECLB’s history. Just like the good shepherd whom she followed, she laid down her life for the sheep entrusted to her care (Jn 10:15)."

(Translated from the original Portuguese.)

Documentation 2: Statement from the Evangelical Lutheran Church in Mozambique

"The Evangelical Lutheran Church in Mozambique condemns unreservedly the brutal and callous murder of Sister Doraci Julita Edinger in Nampula. As a church we are stunned, saddened and completely paralyzed by this despicable act. We call upon the investigation authorities to leave no stone unturned, until the perpetrators are apprehended, their motive known, and are made to face the full justice of law.

Sister Doraci was really committed to uplifting the lives of the poor people, whom she so much loved and identified with. She was working in the rural areas of Moma, Namina and Cabo-Delgado. To the people there, she was a dear friend and associate. She even built her own hut of the same shape and structure as those of the people among whom she worked. During her visits she would sleep in that hut.

Wherever she went in Moma, Namina and Cabo-Delgado, small children would run up to her and embrace her skirts, and she would bend down to touch each one of them on the head.

The remains of Sister Doraci have been flown to Brazil for burial. The church will be represented by Ms Ester Antonio Cossa, a member of the church council and Bishop Clifford M. Molefe our spiritual adviser, who will represent the Evangelical Lutheran churches in Southern Africa.

We offer our deepest condolences to the family of Sister Doraci Julita Edinger, to her Order of Sisters and her home church, the Evangelical Church of the Lutheran Confession in Brazil."

By Dean Hendricks Mavunduse
Acting Pastor

* Deaconess Doraci Edinger was buried on March 6.

IRMÃ ELILDA

WAMPHULA FAX – 12.03.2004

AGREDIDA EM SUA CASA EM NAMPULA

IRMÃ ELILDA MOVE PROCESSO CONTRA SUPOSTOS JORNALISTAS

A Irmã Maria Elilda dos Santos, natural de São Paulo-Brasil, em serviço na Arquidiocese de Nampula que na passada terça-feira foi agredida por dois supostos jornalistas espanhóis na residência das irmãs de Imaculada Conceição, acaba de instaurar um processo, pelo crime de intromissão abusiva em casa alheia. A Irmã, que despoletou o caso de tráfico de órgãos humanos confirmou ter sido agredida com violento empurrão na porta do seu quarto, por volta das 9horas e 40 minutos de terça-feira, na casa das Irmãs de Imaculada Conceição, no bairro de Mutauanha, para onde se refugiara por questões de insegurança no convento. Contudo, em entrevista que nos concedeu ao princípio da manhã de ontem, ela disse que já se sentia um pouco melhor. Contactado a propósito, Xavier Tocoli, director da Ordem e Segurança Pública, referindo-se aos agressores da freira, disse tratar-se de Emaculada Navarro, jornalista da Estação Radiofónica de Madrid e o médico-legista José Miguel, provenientes daquele país europeu e que vinham reportar assuntos relacionados com o alegado tráfico de menores e órgãos humanos na província de Nampula. Revelou ainda terem regressado no mesmo dia, a mando da Embaixa-da Espanhola, devendo aguardar desfecho do caso no seu país. Porém, em nota de imprensa recebida na nossa redacção, Gabinete de Informação condena atitude de tais cidadãos por se terem feito passar por jornalistas bem como instituições estrangeiras, com a devida autorização para trabalharem em Nampula.

NÃO ACREDITO QUE HAJA TRÁFICO

CORREIO DA MANHÃ (Lisboa)


NÃO ACREDITO QUE HAJA TRÁFICO

Os rituais africanos podem ser a explicação para o misterioso desaparecimento das crianças de Moçambique, um facto atribuído a um alegado tráfico de órgãos humanos. “Esse problema parece uma mistificação que pode ter por base os rituais africanos.

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Não acredito que haja uma rede de tráfico de órgãos porque Moçambique não faz transplantes nem tem condições para tal e é impensável fazer isso às escondidas noutro país”, declara ao CM o reputado cirurgião João Rodrigues Pena.

Para reforçar a sua tese, este antigo responsável pelos transplantes no Hospital Curry Cabral e Hospital da Cruz Vermelha lembra o caso de uma criança assassinada na Amadora, há alguns anos, “para o assassino comer os seus órgãos porque acreditava ser este um método terapêutico para curar os seus males e que lhe dava força”.

Rodrigues Pena considera o alegado tráfico de órgãos uma “realidade inverosímil” apenas concebida num cenário de ficção.

Apesar da grande falta de órgãos a nível mundial e de saber que há gente disposta a pagar muito dinheiro por um rim, fígado ou coração, o cirurgião refuta a tese do alegado tráfico porque “é ilícito e internacionalmente não é aceite. Não acredito que haja hospitais nem especialistas envolvidos nisso”, disse.

“Sei do que falo. Eu e a minha equipa fomos responsáveis por cerca de 2000 transplantes feitos em Portugal e a colheita de órgãos não pode ser feita por um carniceiro. É um acto cirúrgico minucioso, que requer uma equipa altamente especializada, numerosa e equipamento tecnológico muito sofisticado”, justificou Rodrigues Pena.

Questionado sobre os receptores, responde que o tamanho dos órgãos é importante. “Os órgãos das crianças são pequenos e só devem ser transplantados noutras crianças, não em adultos.”

A complexidade da transplantação passa pela compatibilidade, condição essencial para um receptor que esteja à espera de um rim ou coração. O fígado não requer a exigência da tipagem do grupo sanguíneo.

Para a transplantação ser bem sucedida é necessário que o órgão seja conservado em condições muito específicas e não pode ser submetido a temperaturas abaixo de 0 graus.

Depois de removido e criopreservado (conservado no frio), o órgão tem um tempo máximo como limite de segurança para ser transplantado.

O coração e o fígado não podem ultrapassar as 12 horas, o pulmão conserva-se pouco tempo, o rim preserva-se até às 24 horas e a córnea pode ser transplantada ao fim de 15 dias. A pele pode ser congelada, já o pâncreas e o intestino são órgãos muito delicados.

Rodrigues Pena sabe que na Índia os “colegas” fazem transplantes quando há dadores dispostos a vender um rim para criar um negócio ou casar. “Os párias vendem um rim a troco de dinheiro mas os resultados são maus e muitas vezes pagam com a própria vida”, conclui.

VIVER SEMPRE COM MEDO

Desde que as irmãs Elilda e Juliana, freiras da Congregação das Servas de Maria, denunciaram o rapto de crianças e o alegado tráfico de órgãos em Nampula, vive-se um ambiente de medo não só naquela província moçambicana, mas também nos arredores. Os pais tremem de cada vez que deixam os seus filhos na escola. Os filhos sentem-se inseguros e desconfiam da própria sombra quando não estão acompanhados. As crianças de rua, párias que não podem contar com a protecção de ninguém, vão-se escondendo como podem. As autoridades mantêm um incomodativo silêncio. As pressões internacionais sobem de tom.

Há muito que aquelas missionárias denunciam o desaparecimento de pessoas, sobretudo mulheres e crianças, e a descoberta de cadáveres com alguns órgãos removidos. Um dos casos mais divulgados é o de Sarima Iburamo, uma rapariga de 12 anos, que desapareceu em Outubro de 2002 quando ia vender fruta no centro de Nampula. No dia seguinte, apareceu o seu corpo sem o coração, pulmões e rins. A Polícia limitou-se a registar o caso.

Perante esta indiferença, as freiras fizeram pesquisas por conta própria e chegaram a filmar locais onde terão ocorrido alguns destes assassínios. As investigações só contaram com a intervenção do procurador-geral de Moçambique, Joaquim Madeira, depois de as freiras o terem contactado para lhe darem conta das suas suspeitas sobre o possível envolvimento dos seus vizinhos estrangeiros, o casal Gary O'Connor e Tania, que exploram uma quinta cedida pelo governador de Nampula, Abdul Razak, numa rede de tráfico de órgãos.

Joaquim Madeira enviou uma comissão de investigação a Nampula, que não encontrou indícios de tráfico de órgãos.

“Está tudo minado”, desabafa a irmã Elilda, ao CM, sugerindo que há pressões de figuras gradas para desabafar o caso. Contactada pelo nosso jornal, a procuradora moçambicana Isabel Rupia justifica o silêncio das autoridades afirmando que as investigações estão em curso.

A esperança da irmã Elilda, que se mantém firme nas denúncias apesar das ameaças e do assassínio da freira luterana Doraci Edinger, é que organizações internacionais actuem. A Amnistia Internacional prometeu enviar uma equipa. Portugal e Brasil estão entre os países que se disponibilizaram para ajudar nas investigações, que, segundo as irmãs, poderão encontrar ramificações em outros países, nomeadamente na Guiné-Bissau, onde recentemente foram denunciados casos de raptos.

BRASILEIROS ALICIADOS A DAR ÓRGÃOS

No Brasil, o tráfico de órgãos, sempre suspeitado mas raramente provado, provocou grande indignação em Dezembro passado, quando foi descoberta no estado de Pernambuco uma rede internacional que comprava órgãos de brasileiros pobres e os transplantava na África do Sul em cidadãos israelitas. A quadrilha, que continua a ser investigada, fez pelo menos trinta transplantes de rim e preparava-se para fazer também transplantes de fígado e coração.

Segundo depoimentos de pessoas aliciadas pela quadrilha, e cujos nomes foram mantidos em segredo devido a ameaças de morte, a rede de traficantes percorria bairros pobres da periferia de Recife, capital de Pernambuco, e aliciava desempregados de boa estrutura física a ir trabalhar na África do Sul, oferecendo-lhes até dez mil dólares mensais e todas as despesas pagas. Os que aceitavam eram levados para a cidade sul-africana de Durban, e só aí eram informados que o real objectivo era comprar-lhes um dos órgãos. Um desempregado brasileiro de 31 anos, recrutado na região de Jaboatão dos Guararapes e que aceitou viajar a trabalho para a África do Sul no início de Novembro, contou que foi levado ao Hospital St. Augustin, alegadamente para ver se a saúde estava em ordem e, depois de exaustivos exames, fizeram-lhe a proposta de vender um dos rins por 10 mil dólares. Assustado, não aceitou e foi recambiado para o Brasil, com a ameaça de que seria morto se contasse a sua história a alguém.

O capitão na reserva da Polícia Militar de Pernambuco Ivan Bonifácio da Silva e o capitão reformado do Exército de Israel Gedalia Talber são dois dos 11 suspeitos já presos no Brasil por envolvimento nesta rede. Segundo eles, a compra dos órgãos humanos em Pernambuco e as cirurgias na África do Sul eram custeadas pela Segurança Social de Israel. É que motivos religiosos impedem esse tipo de cirurgia em Israel, mas o Estado custeia os cidadãos israelitas que queiram fazer transplantes no estrangeiro.

O NEGÓCIO MACABRO VISTO POR HOLLYWOOD

A questão do tráfico de órgãos não escapa, obviamente, à indústria cinematográfica. Filmes como “Coma” e “Estranhos de Passagem” são apenas dois de uma imensidade de obras em que o negócio é abordado de forma mais ou menos frontal.

Uma das primeiras obras a denunciar claramente o tráfico de órgãos é “Coma”, dirigido no distante ano de 1978 por Michael Crichton. Baseado na obra homónima de Robin Cook (que assina o argumento de parceria com o realizador), o filme tem como protagonistas Michael Douglas e Geneviève Bujold. A história desenrola-se numa clínica privada onde alguns pacientes morrem estranhamente na sequência de operações aparentemente simples. Douglas acabará por descobrir que a clínica não passa de uma fachada para um chorudo negócio de fornecedora de órgãos. Impressionante é a cena em que Douglas descobre o armazém recheado de corpos em suspensão.

Não menos ‘chocante’ é o universo descrito em “Estranhos Prazeres” (”Dirty Pretty Things” no original), realizado em 2002 por Stephens Frears. Desta feita, a história roda em torno de um emigrante ilegal em Londres (Chiwetel Ejiofor), a quem um dia cai literalmente um coração humano nas mãos, quando tentava abrir um armário. A partir de então, o emigrante vê a sua situação (e a da companheira) em risco, embarcando numa espiral de acontecimentos que o levam a contactar de perto com o macabro mercado negro do tráfico de órgãos.

Conclusões válidas para 4 corpos exumados

Conheça aqui as principais etapas deste assunto

VERTICAL – 12.03.2004

Conclusões válidas para 4 corpos exumados

(Maputo) O Procurador-geral da República, Joaquim Madeira, disse ontem ao parlamento que as conclusões apresentadas recentemente pela sua instituição segundo as quais não há evidências de mutilação de órgãos humanos em Nampula só são validas em relação aos quatro corpos exumados.

Madeira fez esse pronunciamento em resposta à inquietação dos deputados sobre o alegado tráfico de crianças e de órgãos humanos. Este assunto marcou o informe do PGR que durante dois dias esteve no parlamento a falar sobre a administração da Justiça no País.

Falando em nome da bancada da FRELIMO, a deputada Açucena Duarte manifestou profunda indignação e preocupação com as informações que dão conta da existência de redes que se dedicam a rapto de menores e tráfico de órgãos humanos em Nampula, Manica, cidade e província de Maputo e outros pontos do País. “A nossa posição sobre este assunto é clara. Nós estamos preocupados e queremos, a todo o custo, que se concluam as investigações para que os possíveis implicados sejam julgados e condenados pela justiça”.

Segundo ela, a gravidade do assunto exige serenidade e seriedade de todos na sua abordagem.

Outros aspectos que aparentemente não inquietaram os deputados da FRELIMO são as investigações morosas e não concluídas, como acontece no “caso Siba-Siba Macuacua”, “caso Pedro Langa” ou no “caso Armando Ossufo”.

“Os cidadãos deste país exigem o cumprimento escrupuloso dos prazos legais e jamais aceitarão que os órgãos de administração da justiça, reiteradamente, desrespeitem os prazos de prisão preventiva, de proferição duma sentença ou de cumprimento de pena”, disse açucena Duarte

Por seu turno, Manuel Frank, da RENAMO-União Eleitoral, disse que o Informe do PGR deu a entender que os problemas dos cidadãos estão a ser resolvidos, enquanto na verdade não estão. Acrescentou que, a “linha verde” disponibilizada para os cidadãos queixarem-se junto do PGR não está ao alcance de todos; beneficia os cidadãos de Maputo.

Sobre o tráfico de menores, Frank disse que a PGR trata o caso como se de um romance se tratasse. Segundo ele, não basta criar comissões de investigação, é preciso agir no momento próprio.

Um outro deputado da RUE, também mostrou-se preocupado com os casos Siba-Siba, Armando Ossufo, Pedro Langa, fuga de Anibalzinho. E disse que admira como estes casos nem sequer foram mencionados no informe do PGR.

PGR

Antes de responder às várias perguntas, o PGR afirmou que o tom das intervenções dos deputados confirma que a democracia está a crescer no País.

Conforme o PGR, o caso de alegado tráfico de menores e órgãos humanos está a dar um impacto não real da situação criminal do país. Ele mostrou-se indignado por não ter recebido nenhuma informação sobre o assunto por parte dos deputado do ciclo eleitoral de Nampula. “Se o primeiro caso dizem que é de 2002, porque os deputados não falaram? E acrescentou que só este ano é que teve informação do assunto via, Liga dos Direitos Humanos.

No dizer do PGR, para melhor investigação do assunto é necessário que as instituições da justiça se unam. Este não é um problema sem solução. “A Polícia, o Ministério Público todos temos que juntar esforços para investigar este assunto. Não precisamos que venham estrangeiros investigar o alegado tráfico de menores e órgãos no nosso País”.

Sobre o “caso Siba-Siba”, Joaquim Madeira disse que já foram ouvidas 59 pessoas. As diligências continuam e algumas delas estão a ser feitas fora do País. Adiantou que no estrangeiro, sem mencionar os países, está-se a accionar mecanismos para que os ministérios públicos locais possam prosseguir com as investigações.

Quanto ao “caso Pedro Langa”, o PGR avançou que houve uma detenção, mas depois de passado o tempo de prisão preventiva o implicado foi absolvido.

Sobre o assassinato de Armando Ussufo, Madeira disse que em conexão com esse caso estão detidas pito pessoas e o processo encontra-se em andamento.

A cerca dos carros quentes de Cabo Delgado, Madeira comentou que o Ministério Público interpôs um recurso ao Supremo por não ter ficado satisfeito com a sentença do caso que absolveu os acusados . (Arménia Mucavele)

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11 marzo, 2004

DEPUTADOS MOÇAMBICANOS VÃO A NAMPULA

2004-03-11 00:00:00
Maria José Morgado diz ser necessário apoio para investigar

O tráfico de órgãos chegou ontem ao Parlamento de Maputo, com o procurador-geral de Moçambique, Joaquim Madeira, a apresentar o balanço do trabalho desenvolvido e a pedir legislação específica. Um grupo de deputados vai deslocar-se depois de amanhã a Nampula, a pedido da Renamo, principal partido da oposição.

Joaquim Madeira apresentou o relatório já conhecido sobre as investigações, que até agora não foi conclusivo. O procurador-geral moçambicano criticou o afã dos media relativamente a este caso e pediu que seja criada uma lei que regule o tráfico de crianças, a venda de órgãos humanos de modo a tornar mais eficazes as investigações. A Renamo criticou a falta de independência da procuradoria-geral em relação ao governo e pediu a deslocação de deputados a Nampula, palco de vários raptos de crianças e assassínios, denunciadas pela Congregação Servas de Maria.

O governo português está disponível para colaborar com Maputo na investigação dos alegados casos de tráfico de órgãos naquela região moçambicana. Uma disponibilidade manifestada já pela ministra da Justiça, Celeste Cardona, que afirma não ter ainda recebido nenhum pedido formal por parte das autoridades de Maputo.

Ontem, em entrevista à Rádio Renascença, a procuradora-geral adjunta, Maria José Morgado, tipificou as redes de tráfico de órgãos, as quais, sublinhou, actuam por norma em países pobres, com ligação a países mais ricos. Sem nunca se referir ao caso concreto moçambicano, a magistrada afirma que as investigações deste tipo de crimes são complexas e exigem apoio do poder político

10 marzo, 2004

Mozambico: comboniane, troppi silenzi sul traffico di organi di bambini

[RedazionePortale] Mercoledì, 10 marzo @ 17:48:36 CET Di Redazione. *** 10.03.04
Dopo le Serve di Maria, le Comboniane del Mozambico si uniscono all’appello per “rompere il silenzio” – “Break the silence” – sulla scomparsa dei bambini, vittime dei trafficanti di organi. La Provinciale delle 60 comboniane del paese africano, suor Angelina Zenti, italiana, si rivolge ora al proprio paese di origine. Le suore comboniane rilevano infatti che mentre i mezzi informativi internazionali, tra cui “Radio Exterior de Espana”, giornali e agenzie online, sia portoghesi che mozambicane, continuano ad informare sul caso della scomparsa di bambini e del ritrovamento di corpi mutilati, in Italia continua a regnare il silenzio, slavo pochissimi casi e legati per lo più al mondo missionario. ”Nel Vangelo dell'altra domenica – spiega suor Angelina Zenti – abbiamo letto ‘chi accoglie uno di questi piccoli accoglie me...’. E dunque, che dire della nostra situazione? Veramente, il demonio lavora e chi smentisce la gravità della situazione e presenta una versione della cosa contraddittoria fa pensare che il demonio abbia dei buoni collaboratori. Ma è ancora il Vangelo che ci ricorda: certi tipi di demoni si scacciano solo con la preghiera. Unitevi a noi in questa lotta per la verità, per la libertà e per la vita”. L’appello, riportato in Italia da “Femmis”, il sito internet delle Missionarie Comboniane, sottolinea inoltre che a Nampula, dopo l’assassinio della missionaria luterana Doraci Edinger, avvenuto dieci giorni fa, c’è un’aria pesante di silenzio e intimidazione. “E così pure silenzio pesante si respira passando nei pressi della grande tenuta sulla stessa strada che porta al monastero” “State tranquilli – scrivono le suore – qualsiasi cosa succeda, noi ci mettiamo nelle mani di Dio e Lui non ci abbandonerà". Fonte: Femmis

09 marzo, 2004

Missionária agredida por jornalistas

UCLA
Tráfico de cadáveres humanos leva a duas detenções
Dois responsáveis da Universidade de Medicina de Los Angeles, EUA (UCLA), foram detidos, pelo tráfico de órgãos de cadáveres humanos doados à ciência. Um dos detidos é o director do programa de doação de corpos, Henry Reid.

16:48
09 de Março 04
MOÇAMBIQUE
Missionária agredida por jornalistas
Uma das missionárias brasileiras que denunciou o tráfico de órgãos em Moçambique, na província de Nampula, foi agredida, esta terça-feira, por dois jornalistas espanhóis da «Cadena Ser».

13:51
09 de Março 04
A missionária Elilda dos Santos já apresentou queixa na polícia, mas à saída da esquadra preferiu não fazer quaisquer comentários, dizendo apenas que preferia «falar noutra altura» e que estava «bem».

Por seu lado, o director da Ordem Pública da Polícia moçambicana, Xavier Tocoli, disse à TSF que «chegaram dois indivíduos à residência [de Elilda], forçaram a porta, alegando que eram jornalistas».

«Na altura em que ela queria fechar a porta eles forçaram a entrada e pegaram-lhe no braço. Ela deu a informação de que estava a ser agredida e fomos obrigados a intervir», disse Xavier Tocoli, adiantando que «conseguimos identificar a viatura que transportava os tais jornalistas».

Xavier Tocoli adiantou também ter recebido um telefonema do primeiro secretário do embaixador de Espanha, em Maputo, «que confirmou que se tratam de jornalistas espanhóis, que vinham fazer uma reportagem sobre a problemática do tráfico de menores em Nampula».

Segundo o director da Ordem Pública «[Elilda dos Santos] não estava informada, assustou-se e interpretou isso como pessoas com intenções maléficas». As investigações vão prosseguir, como garantiu Xavier Tocoli.

O anúncio relativo às detenções foi feito pela própria universidade californiana, que explica que Henry Reid foi detido no

sábado, tendo sido libertado após o pagamento de uma caução de 20 mil dólares.

O outro detido é Ernest Nelson, de 46 anos, que serviria de intermediário e que confessou ter exercido o tráfico ao longo

de seis anos, tendo desmembrado cerca de 800 cadáveres.

Os dois homens são acusados de organizar a recuperação de corpos e órgãos para vender a vários laboratórios

privados, antes de os usarem para as suas próprias pesquisas.

A UCLA reagiu ao caso afirmando que «tais crimes violam a confiança dos dadores, das suas famílias e da UCLA.

Estamos profundamente desolados», referiu Gerald Levey, daquela instituição norte-americana.

Lentitud en las investigaciones sobre el asesinato de misionera en Mozambique que podría estar relacionado con una red de tráfico de órganos

Rebelión


La Federación Luterana Internacional (LWF) cree que las autoridades de Mozambique no manifiestan interés en agilizar las investigaciones sobre el asesinato en este país de la de la misionera Doraci Edinger. Aunque todavía no se ha demostrado la vinculación entre la muerte de Doraci Edinger y la red de tráfico de órganos, los religiosos están convencidos de ello. La LWF ha pedido al ministro mozambiqueño de Interior que estudie el caso, ya que en alguna de las declaraciones se implica a oficiales de policía de Nampula en la red de tráfico.

El cuerpo de Edinger fue encontrado el 23 de febrero en su apartamento de Nampula. La misionera brasileña había expresado, en varias ocasiones, que su seguridad corría peligro desde el momento en el que apoyó a las monjas católicas en la denuncia sobre una red de tráfico de órganos humanos y niños.

El tema saltó a finales del 2003, cuando Maria Elilda dos Santos presentó un informe a la Liga de Derechos Humanos de Mozambique, en el que se describían a personas sospechosas de matar a niños pobres para vender sus órganos a sudafricanos, a partir de ese momento Maria Elilda dos Santos y otras religiosas como la asesinada Edinger , comenzaron a ser amenazadas.

Elilda investigó el primer caso de tráfico de órganos conocido -una chica de 12 años que había desaparecido en octubre de 2002-. Su cuerpo fue encontrado sin corazón, pulmones ni riñones. El caso fue notificado a la policía, pero realizó ninguna investigación y el caso quedó archivado. Elilda y cinco niños recibieron amenazas de muerte y tuvieron que ser escondidos.

Las monjas, sobre todo españolas, en el monasterio de Matter Dei, siguen recibiendo amenazas de muerte y continúan investigando la red de tráfico de órganos de Nampula. Se han recogido más testimonios supervivientes y fotografías de niños asesinados a los que le han sido extirpados algunos órganos. El mes pasado, cuatro monjas pudieron escapar de un ataque armado después de presentar nuevas pruebas ante las autoridades.

Después de que el 25 de febrero el asistente del Procurador General del Estado, Rafael Sebastião, declarase que tras las primeras investigaciones no se habían encontrado evidencias de tráfico de órganos, los religiosos han decidido acudir al Presidente de Mozambique, Joaquim Chissano.

Tráfico de cadáveres humanos leva a duas detenções

UCLA

Dois responsáveis da Universidade de Medicina de Los Angeles, EUA (UCLA), foram detidos, pelo tráfico de órgãos de cadáveres

humanos doados à ciência. Um dos detidos é o director do programa de doação de corpos, Henry Reid.

16:48
09 de Março 04

O anúncio relativo às detenções foi feito pela própria universidade californiana, que explica que Henry Reid foi detido no sábado, tendo sido libertado após o pagamento de uma caução de 20 mil dólares.

O outro detido é Ernest Nelson, de 46 anos, que serviria de intermediário e que confessou ter exercido o tráfico ao longo de seis anos, tendo desmembrado cerca de 800 cadáveres.

Os dois homens são acusados de organizar a recuperação de corpos e órgãos para vender a vários laboratórios privados, antes de os usarem para as suas próprias pesquisas.

A UCLA reagiu ao caso afirmando que «tais crimes violam a confiança dos dadores, das suas famílias e da UCLA.

Estamos profundamente desolados», referiu Gerald Levey, daquela instituição norte-americana.

Tráfico de órgãos humanos - Redobrar esforços para trazer a verdade

2004/03/09

Exorta Ministro do Interior, Almerino Manhenje.

O Ministro do Interior, Almerino Manhenje, disse ontem em Maputo que as informações postas a circular sobre o rapto de menores e tráfico de órgãos humanos em algumas províncias do país, com realce para Nampula, requerem das autoridades um redobrar de esforços e vigilância para trazer à superfície a veracidade ou não dos factos que têm vindo a ser reportados, o que só pode ser possível com o engajamento de todos.

Para ele, é necessário que haja serenidade nas pessoas, porque, seguramente, haverá também gente de má fé que vai difundindo um conjunto de informações que apenas fará com que as autoridades despendam esforços em vão na averiguação, desviando-se daquilo que são os objectivos fundamentais para se poder resolver as reais preocupações da população.

Falando na tomada de posse de novos quadros do Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM) e da Migração, Almerino Manhenje apontou que só desta forma é que se poderá devolver a paz e sossego, por um lado e, ao mesmo tempo, punir-se aqueles que de uma e outra maneira poderão estar envolvidos nestes actos.

Questionado por jornalistas sobre se o assunto não estaria ligado a um eventual jogo político, o ministro do Interior respondeu dizendo que até aqui estamos a trabalhar na base de factos e em função do que formos apurando vamos trazer à superfície aquilo que efectivamente é a realidade e, talvez, aquilo que é a interpretação política que supostamente isso possa ter.

O titular da pasta do Interior disse que a preocupação não é só com relação à província de Nampula, mas também Sofala e Manica. Apontou, por exemplo, que há dias, em Sofala, um menor de quatro anos abandonou a mãe no hospital, o que levou a progenitora a afirmar que se tratava de um rapto, mas na verdade o filho regressou a casa para tomar uma refeição. `Portanto, devemos estar atentos a informações de má-fé, que só visam baralhar cabeças de pessoas e semear pânico, advertiu Manhenje...


T S F

06 marzo, 2004

Moçambique suspeito de tráfico de crianças


Autor: Jornal de Notícias
Data: 06-03-2004


Missionários têm denunciado casos de alegado tráfico de órgãos extraídos a crianças

Religiosos e Religiosas que se dedicam à evangelização em Moçambique dizem que, "passado o período da guerra, que envolveu crianças e adolescentes nas suas fileiras, vemos crescer nas cidades moçambicanas o triste espectáculo de crianças que fazem das ruas a sua casa". Referem também que, "nestes últimos meses, uma preocupação adicional veio somar-se àquelas angústias" : no dia 13 de Setembro de 2003, numa denúncia assinada, entre outros, pelo arcebispo D. Tomé Makhweliha, "foram divulgados vários acontecimentos estranhos e preocupantes ocorridos na cidade de Nampula" sobre suspeitas de tráfico de órgãos de crianças para transplantes. A denúncia foi levada à reunião da Conferência Episcopal de Moçambique, que decidiu apresentar o problema ao presidente da República, Joaquim Chissano.

Investigação posterior da brasileira Maria Elilda dos Santos, leiga consagrada que trabalha em Nampula,levantou com mais acuidade o problema do tráfico de órgãos extraídos a crianças moçambicanas.

Alertadas, as autoridades optaram pela negação apressada, tendo embora confirmado a existência de cadáveres mutilados, mas não a extracção de órgãos para transplantes. O procurador-geral da República confirma que o assunto ainda está em aberto.

Religiosos e religiosas continuam a dizer que "é inegável a existência de uma rede de tráfico de órgãos a actuar na África do Sul", com ligações ao Brasil, e que se serve de Moçambique. Por isso, continuam a apelar para o apuramento da verdade e a prevalência da justiça.

Foi entretanto marcada para o próximo dia 24, em Moçambique,uma jornada de jejum, oração e reflexão sobre a situação vulnerável das crianças sujeitas à mendicidade, ao roubo, ao tráfico de drogas, à exploração no trabalho e na prostuição, e ao tráfico de órgãos para transplantes.

O presidente da Conferência Episcopal de Moçambique , D. Jaime Gonçalves, declarou, à agência "Ecclesia": "Queremos voltar a circular livremente em Moçambique sem o perigo de sermos apanhados e nos extraiam órgãos internos". O bispo da Beira classifica os alertas de Maria Elilda Santos como "um bom trabalho de denúncia". Em relação à morte da missionária brasileira Doraci Edinger, a 24 de Fevereiro, D. Jaime não sabe "se o caso está relacionado com aquelas denúncias", mas assegurou que a Conferência Episcopal está atenta. Elilda dos Santos está a ser pressionada, até com ameaças de morte, para abandonar Moçambique

Pastor acredita que religiosa conhecia o assassino

SILVANA WUTTKE/ Especial/ZH

O presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), Walter Altmann, disse que a irmã Doraci Edinger pode ter sido assassinada para evitar que os dois se encontrassem como estava previsto para o dia 24 de Fevereiro.

- O assassino ou seu mandante sabia ou presumia que ela iria me revelar algo grave, que de seu ponto de vista não deveria chegar ao meu conhecimento sob hipótese alguma. O que pretendia a irmã Doraci me revelar? Não sei - disse Altmann em entrevista coletiva, ontem à tarde, após sua chegada ao Brasil.

Segundo relato de Altmann, em depoimento à polícia, um dos guardas do prédio em que Doraci morava confirmou que uma pessoa teria aparecido entre 8h e 8h30min do dia 21(dia do crime) para encontrar-se com a irmã. Essa mesma pessoa, não-identificada, teria voltado um tempo depois, alegando que não a havia encontrado. Uma moradora do prédio disse ter ouvido gritos de socorro no mesmo horário.

Como não houve roubo nem estupro, indícios, segundo Altmann, apontam que a religiosa conhecia o assassino. Outra hipótese para o crime seria o carro usado pela irmã. O veículo teria gerado inveja, em função das condições de pobreza da comunidade local.
Nos últimos meses, Doraci teria manifestado a Altmann e à família preocupações com sua segurança. Em vista de uma cisão em 2001 e de uma posterior reconciliação dentro da Igreja Luterana de Moçambique, continuavam os conflitos dentro da instituição.

Ontem, em visita a familiares de Doraci, em Novo Hamburgo, o pastor entregou objetos da missionária e recebeu uma das cruzes da religiosa. Altmann também trouxe de Moçambique relatório fotográfico feito por Doraci.

IMENSIS