30 diciembre, 2003

Em Nampula - Detidos suspeitos de tráfico de menores


2003/12/30

A Procuradoria-Geral da República, através da sua Unidade Anticorrupção, ordenou, recentemente, a detenção de alguns
indivíduos acusados de fazer parte de uma rede que nos últimos
tempos estaria a traficar menores.



Não foi porém revelado o número de indivíduos detidos, sabendo-se apenas que na sua maioria são estrangeiros com destaque para sul-africanos e outros provenientes da Europa.

Fonte da Unidade Anticorrupção que facultou estas informações disse que o respectivo processo encontra-se numa fase de instrução bastante avançada, esperando-se que até meados de Janeiro próximo seja concluído e os indivíduos acusados formalmente.

Dada a dimensão do processo, na altura em que apareceram os primeiros casos de suspeita, a chefe da Unidade Anticorrupção, Isabel Rupia, teve que se deslocar à cidade de Nampula para, de perto, se inteirar da situação e colaboração aos seus colegas que no terreno continuavam a investigar o caso.

Parte das crianças traficadas, segundo apurámos, são conduzidas a alguns países da região e outras para Ásia e América, onde são usadas para diversos fins, como prostituição infantil, trabalho forçado, entre outras actividades ilícitas...

07 diciembre, 2003

Brasileiros no tráfico de órgãos

Confirmado: brasileiros estão na África do Sul para vender órgãos do próprio corpo! Os repórteres do Fantástico localizam na cidade de Durban quatro vítimas desse escândalo internacional, que começou a ser descoberto, no início da semana, com denúncias e prisões no Recife!

A quadrilha recrutava os "vendedores" de rins em bairros pobres do Recife. O principal o local de negociações era uma marcenaria. O dono, conhecido como Zinho, procurava os amigos e fazia a proposta: ir para a África do Sul se submeter a uma cirurgia para retirada de um dos rins por R$ 40 mil.

"Esse amigo meu fez uma proposta e perguntou se eu tinha coragem de fazer isso", conta um homem que não quis se identificar.

Da cirurgia sobrou uma marca de quarenta centímetros entre o abdômen e as costas. Segundo a polícia, os gerentes da quadrilha são o oficial da reserva da Polícia Militar Ivan Bonifácio da Silva e a mulher dele. O casal encaminhava os pacientes à Polícia Federal para retirada dos passaportes.

"A pessoa responsável que tava na hora, tirando passaporte da gente lá, foi "Telinho" e a esposa do capitão", conta a testemunha.

Com o passaporte nas mãos, a pessoa recebia parte do pagamento no aeroporto e, depois, era só embarcar para a África do Sul.

O rapaz conta que, em Durban, três estrangeiros e um intérprete brasileiro conhecido como Felipe estavam à espera dele. Numas fotos no hospital Saint Augustines, junto com os outros pacientes que venderam os órgãos, estão os outros dois intermediadores na África do Sul. A equipe que realizou a cirurgia também foi fotografada. O médico americano e o anestesista.

"As cirurgias eram feitas na mesma hora. Uma maca de um lado, o equipamento do outro. Chegava e tirava. Tirava de um e colocava de outro na mesma sala", relata o rapaz.

A polícia calcula que 30 pessoas tenham se submetido ao tráfico de órgãos. Além do capitão e da mulher dele, foram presos também um major da reserva do exército de Israel e dois pacientes que trabalhavam como agenciadores no Recife depois de vender os rins, João Cavalcanti do Nascimento e Marcondes Lacerda de Araújo. A estimativa é que o tráfico internacional de órgãos tenha movimentado em um ano cerca de R$ 12 milhões.

As investigações prosseguem em segredo. No último sábado, um dos acusados foi solto depois de conseguir na Justiça um habeas corpus. A prisão provisória dos outros detidos foi prorrogada por mais cinco dias.

Na África do Sul, três pessoas foram presas suspeitas de envolvimento com a quadrilha internacional. O repórter Álvaro Pereira Júnior foi a Durban acompanhar o trabalho da polícia sul-africana.

O representante da polícia de Durban avisa: a investigação sobre a quadrilha internacional de tráfico de órgãos está apenas no começo.

Vai haver mais prisões nos próximos dias? "Sim. Definitivamente. Nós esperamos prender agora os profissionais da quadrilha: médicos, advogados e professores, qualquer um", promete Vishnu Naidoo, superintendente da polícia de Durban.

Os transplantes acontecem no hospital Saint Augustines, que ocupa um quarteirão da cidade. No domingo pela manhã a equipe do Fantástico foi até lá, mas a segurança proibiu a filmagem e nenhum diretor quis recebê-los.

O hospital é particular e existe há mais de 100 anos. A polícia acha que uma rede de médicos atua numa espécie de submundo da cirurgia, longe dos olhos da direção do hospital.

"Temos a cooperação total da direção do hospital e até este ponto da investigação nada comprometeu a instituição", defende Naidoo.

Esta semana, quando o esquema foi descoberto, havia quatro brasileiros em Durban, trazidos pela quadrilha. O rim de um deles já havia sido transplantado para um agricultor israelense, de 42 anos. Em um apart-hotel, em algum ponto da cidade, os outros três esperavam a vez deles. Mas a quadrilha de aliciadores desapareceu. Os pernambucanos acabaram sozinhos num país desconhecido.

"A polícia da África do Sul encontrou os brasileiros através de uma operação conjunta do nosso serviço de inteligência, Ministério de Saúde e Interpol. A prisão de algumas pessoas nos levou até os brasileiros", relata Naidoo.

Na tarde de sábado, dois dos quatro brasileiros apareceram de surpresa no hotel onde a equipe do Fantástico estava hospedada. Eles foram acompanhados de três policiais sul-africanos e de um tradutor que ajuda no contato com as autoridades locais. Os dois rapazes, de 22 e 26 anos, só aceitaram dar entrevistas sob a condição de que o Fantástico não mostraria nada que pudessem identificá-los. Foi uma conversa rápida e muito tensa. Os policiais sul-africanos não saíram do lado dos brasileiros nem por um minuto. Até o ângulo em que a entrevista foi filmada foi determinado por eles.

Fantástico: Vocês tinham idéia de que o que vocês estavam fazendo era fora-da-lei?
Rapaz 1: "Não tinha idéia nenhuma".
Rapaz 2: "Sei que isso não era o certo, que realmente é contra a lei. Mas só que eu estava precisando, a dificuldade que eu passo... E como apareceu esta oportunidade eu pensei que era uma boa".

Fantástico: Quanto você ia ganhar?
Rapaz 2: "Ia ganhar US$ 6 mil".
Rapaz 1: "O mesmo tanto. US$ 6 mil".

Fantástico: A sua operação estava marcada? Quando ela aconteceria?
Rapaz 1: "A minha não tava não. Eu fiz só exame lá e vim para cá. Chegou aqui, antes de eu fazer os exames, quando eu desci do carro, que cheguei no motel, que eu encontrei com os meninos, já fui sabendo da notícia".

Fantástico: Houve pessoas que recepcionaram vocês em Durban. Quando a polícia entrou na história, o que aconteceu com essas pessoas?
Rapaz 2: "Alguns chegaram pra gente e falaram que a polícia tinha chegado e que ninguém ia fazer mais a cirurgia. Outro foi detido. Não teve muito contato com a gente. Mas sempre teve uma pessoa que foi muito legal comigo, a portuguesa Dalila. Ela não quis mais porque ela tem as duas filhas dela".

Fantástico: Você ficou com medo de ser preso?
Rapaz 2: "Estou fora do Brasil, estou vendo a dificuldade que é para conseguir o nosso retorno, a passagem, marcar o dia. A gente ficou meio nervoso, mas nunca fiquei com medo de ser preso".

Fantástico: De vocês quatro, três não tinham sido operados, mas um já tinha tido o rim extraído. Essa pessoa está como?
Rapaz 2: "Teve umas dores no começo, mas agora ele está mais relaxado".

A polícia da África do Sul prendeu três pessoas esta semana. Dois integrantes do bando e o homem de Israel que recebeu o rim do brasileiro. O israelense já foi até julgado, pegou dois anos de cadeia com alternativa de pagar uma multa equivalente a R$ 2,5 mil. Ele pagou e já voltou a seu país. O doador brasileiro ganhou US$ 6 mil (R$ 18 mil). Mais o dinheiro foi apreendido pela polícia, virou prova no processo e não será devolvido.

O chefe das investigações disse ao Fantástico que as passagens de volta dos brasileiros estão em poder das autoridades. Elas foram apreendidas com a quadrilha de aliciadores. O plano da polícia da África do Sul é mandar os brasileiros de volta para casa o mais rápido possível. De acordo com uma nova lei do país, como eles colaboraram com as autoridades não vão ser processados, entram apenas como testemunhas.