25 febrero, 2004

A UTILIDADE DAS AUTÓPSIAS!

O CASO NAMPULA

Tirar a língua de três crianças para cerimónias tradicionais é muita língua junta, sobretudo quando não se conhece relato do passado sobre tais práticas. A coberto de práticas supersticiosas são estarão a acontecer coisas que não legitimadas por um médico legista desatento?!
Parece que a equipa chefiada pelo procurador-geral adjunto no caso de Nampula no seu relatório preliminar não convenceu não só aos jornalistas presentes como à sociedade destinatária da informação que se divulgou. É que, perante factos, ou seja se eu vejo um cadáver sem olhos, sem língua e outros órgãos nenhuma autópsia me pode convencer do contrário. Não venha aqui a autópsia dizer que os olhos lá estavam e a língua só porque são entidades únicas capazes de legitimar o que o olho do povo viu.
Os mistérios de Nampula são graves. Algo deve ser aprofundado das denúncias feitas, uma vez que os denunciantes existem e reiteram as suas palavras perante o desmentido técnico de médicos legistas e outros técnicos de suposta competência.
Falou-se de um corpo encontrado na linha férrea (abandonado). As autoridades precipitaram-se a declarar que foi um acidente com comboio. Ora isto é um absurdo e não entendo até quando se poderá manter, uma vez que a população se revolta perante estas “indiferenças” institucionais.
Tirar a língua de três crianças para cerimónias tradicionais é muita língua junta, sobretudo quando não se conhece relato do passado sobre tais práticas. A coberto de práticas supersticiosas não estarão a acontecer coisas que são legitimadas por um médico legista desatento?!
Quando a procuradoria reconhece que desaparecem crianças em Nampula, mas reitera que nada existe do que se suspeita, a questão é desaparecem para onde estas crianças, quem as faz desaparecer e porquê?!
A Procuradoria-Geral, no lugar de precipitar uma conferência de imprensa que nada traz de substancial, deveria ter continuado a trabalhar no terreno e com os denunciantes até encontrar algo palpável que pela forma como se diz é convicção geral que existem, sim, senhor, problemas em Nampula, mesmo que os livros não consigam identificar, há problemas.
O que estou a pensar é que eventualmente estejamos a fazer exigências técnicas difíceis em que os meios não nos ajudam, mas a negar as evidências só porque a autópsia nada indica não acho que seja justo; recomenda-se mais trabalho com o mesmo chefe da equipa sediado em Nampula e nada de visitas aos supostos raptores de menores e sabem porquê?...

PS: Os detalhes sobre a vida da nação tem animado muitas sensibilidades e cansam às vezes os que emitam opinião, eu sou um dos que está cansado pelo que vou repousar por algum tempo e peço compreensão aos assíduos leitores deste De Olho
Aberto.
Correio da Manhã – Maputo – 25.02.2004

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