26 febrero, 2004

Moçambique - UNICEF não esconde a apreensão perante as denúncias


UNICEF ATENTA A NAMPULA

A UNICEF está a acompanhar atentamente as sucessivas mortes e desaparecimentos em Moçambique, cuja ligação ao tráfico de crianças e órgãos humanos foi denunciada por religiosas naquele país. Uma preocupação que surge no dia seguinte a ter sido anunciado a morte em Nampula de uma missionária luterana brasileira, violada e assassinada na sua residência por desconhecidos.

d.r.

O tráfico de crianças está a ser denunciado por religiosas moçambicanas

“Estamos preocupados com as denúncias feitas pelas freiras, parece ser algo muito dramático, é urgente que as autoridades investiguem as denúncias” – afirmou ontem em Maputo Michael Klaus, porta-voz daquela organização, que, no entanto, não contestou os resultados da investigação preliminar da Procuradoria-Geral. Mesmo assim, Klaus admitiu que a ausência de indícios claros em relação às denúncias das freiras “não significa que não aconteceu nada”. Questionado se a organização tem alguma pista sobre o alegado tráfico de órgãos em Nampula, Michael Klaus declarou que apenas pode “referir o relatório preliminar do procurador-geral, segundo o qual não há indícios no momento”. O responsável da UNICEF confirmou também que a investigação das autoridades moçambicanas se referem apenas a dez ou 12 dos 60 casos que foram denunciados pelas freiras.

A posição da UNICEF foi divulgada um dia depois de ter sido encontrado em Nampula, no Norte de Moçambique, o cadáver da missionária brasileira Doraci Edinger, alegadamente violada antes de ter sido – ao que tudo indica – barbaramente assassinada.

A directora da Irmandade da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Hulda Hertel, afirmou que a religiosa assassinada tinha conhecimento do tráfico internacional de órgãos de crianças em Moçambique.

Ameaçada várias vezes

De acordo com Hertel, "a irmã Doraci chegou a tecer comentários, há três anos (quando esteve no Brasil), sobre o problema do tráfico de órgãos de crianças no Norte de Moçambique. Na altura, referiu que as famílias da região não sabiam como defender-se dos traficantes e que os órgãos eram vendidos para outros países". Além disso, Edinger – em carta enviada à direcção da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, em 2001 – escreveu que tinha recebido ameaças de morte, mas "nunca esclareceu os motivos".

Refira-se que, ainda ontem, a freira católica Maria Elilda dos Santos – amiga da missionária assassinada –, que denunciou o problema do tráfico de órgãos humanos em Moçambique, confirmou que a comunidade religiosa naquele país teme represálias. “Estamos todos muito assustados”, refere a religiosa.

CRONOLOGIA

22 DE FEVEREIRO

A freira católica brasileira Maria Elilda dos Santos denunciou que crianças de Nampula são vítimas do tráfico internacional de órgãos.
23 DE FEVEREIRO
A Procuradoria-Geral da República afirma não existirem elementos que indiciem os crimes.
26 DE FEVEREIRO
A missionária brasileira Doraci Edinger foi encontrada morta em Nampula.

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