23 febrero, 2004

«Há qualquer coisa que vai ficar por explicar»

O padre Firmino reage com estranheza às declarações do procurador de Moçambique, que negou o tráfico de órgãos humanos no país. O religioso pergunta: «se o Governo não defende as suas crianças quem é que as vai defender?».

Padre Firmino, um religioso português que acompanha o alegado tráfico de órgãos em Moçambique há vários meses, considera que a questão está muito longe de ficar encerrada com o anúncio da justiça moçambicana, que estranha.

«É de facto muito estranho depois de ele (procurador-geral da República) ter reconhecido publicamente há pouco tempo que havia indícios fortes da existência desse tráfico, não apenas em Nampula mas até noutras províncias de Moçambique», disse à TSF.

«De facto, é verdade que desde há dias ele vinha mudando um pouco o discurso e não é de colocar de parte o facto de ele ter sido alvo de pressões, talvez por parte do governo preocupado com a sua imagem externa», acrescentou.

Pode não haver tráfico, mas há crime.

O padre Firmino diz que se não há tráfico de órgãos, outros crimes haverá, porque 50 crianças continuam desaparecidas.

«Há qualquer coisa que vai ficar por explicar. Os testemunhos e as reportagens falam de crianças que desaparecem, de crianças de que aparecem os corpos sem órgãos, de crianças raptadas que conseguem escapar e que dão testemunhos, etc. Ora, se não há uma ligação com tráfico de órgãos humanos, isto deverá ser uma outra coisa qualquer, mas não deixa de ser crime», sublinhou.

«Se há crime há criminosos. Portanto vai ter que haver uma investigação para explicar tudo isto que tem acontecido e que são fenómenos muito preocupantes», frisou o religioso.

«Pode-se perguntar até que ponto a justiça moçambicana é isenta e pode fazer um verdadeiro trabalho de investigação e quem é que defende as crianças moçambicanas. Se o Governo moçambicano não defende as suas crianças quem é que as vai defender?», questiona Firmino Cachada, que dá apoio a vários missionários em Moçambique e acompanha este caso de perto.

O alegado tráfico de órgãos e de crianças foi denunciado por uma freira brasileira em Dezembro último.


20:09
23 de Fevereiro 04

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