05 noviembre, 2004

A atuação de religiosos na rota do tráfico de órgãos internacional

A província de Nampula, em Moçambique, ficou conhecida internacionalmente por ser rota do tráfico de órgãos de crianças e adultos, envolvendo vários países do mundo. A denúncia foi feita por missionários religiosos que trabalham na região - uma missão arriscada que já ocasionou torturas e mortes, inclusive de brasileiros. A principal denunciadora, a missionária católica Maria Elilda dos Santos, tem buscado ajuda junto a autoridades mundiais para solucionar o caso que, segundo ela, é tratado com descaso pelo governo moçambicano.

Em setembro de 2003, acompanhada da presidente da Liga dos Direitos Humanos de Moçambique, Alice Mabote, Elilda se encontrou com o Procurador Geral da República de Moçambique, Joaquim Madeira, para lhe dar parte das suas preocupações em relação com diversos casos relacionados com o tráfico de menores, na Província de Nampula. Elilda também revelou a indiferença das autoridades policiais em relação aos relatos. Para fundamentar as acusações, a missionária apresentou um dossiê resultante das suas investigações sobre uma presumível rede de traficantes de crianças e órgãos humanos. Nesse dossiê, ela apresenta detalhadamente um conjunto de fatos e testemunhos relacionados com cadáveres aparecidos sem órgãos e enterrados por ordem das autoridades, sem qualquer investigação policial preliminar ou subseqüente.

O dossiê encaminhado pela religiosa foi analisado com rapidez pelos médicos-legitas sobre 4 dos 14 cadáveres indiciados como tendo sido vítimas do tráfico de órgãos humanos e concluiu não haver ligação entre as referidas investigações e o tráfico. Entretanto, o procurador Geral da República sublinha, em uma conferência de imprensa no Maputo, que é ainda um relatório preliminar e reconheceu que o trabalho de investigação não foi profissional. Por outro lado, o Procurador Geral Adjunto que conduziu as investigações “in loco”, Rafael Sebastião, critica a apatia da Polícia de Investigação Criminal (PIC) e do Ministério Público perante o fenômeno, acusando ambas as instituições de falta de profissionalismo.

A partir de fevereiro de 2004, o caso tomou proporções internacionais com a explosão de notícias na mídia. Depois disto, a Superiora do Mosteiro Mater Dei, em Nampula, Sor María del Carmen Calvo Ariño (Irmã Juliana), fez um relatório sobre determinados acontecimentos e comportamentos que podem constituir outras tantas pistas para a investigação do crime organizado. Foi nesse mesmo mês que a missionária luterana, Doraci Edinger, que trabalhava lá desde 1998, foi encontrada morta no seu apartamento em Nampula, no dia 24. Em meio a torturas e ameaças, surge a primeira vítima das denúncias. O pastor Walter Altman, presidente da IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil), que acompanhou as investigações da morte de Doraci, foi procurado para falar sobre o assunto, mas até o fechamento desta matéria não respondeu às questões. Após contatos com sua assessoria foi informado que o pastor não daria o depoimento por falta de tempo.

Depois da morte da missionária, os religiosos de Moçambique redigiram um documento, onde destacam que a evidência de tráfico de órgãos humanos na Província de Nampula e noutras regiões de Moçambique é inegável. Outros comunicados emitidos pela Igreja Católica de Moçambique exigem a solução do caso. A Ordem dos Servos de Maria, instituição a que pertence o Mosteiro Mater Dei, também organizou, a partir de Roma, um abaixo-assinado para pedir à União Européia que seja aberto um inquérito judicial sobre o desaparecimento de crianças em Nampula. Esta iniciativa conseguiu 150 mil assinaturas que foram entregues ao Parlamento Europeu e à Comissão dos Direitos Humanos da ONU, em Gênova. A denúncia do tráfico de órgãos se caracteriza pela participação ativa dos religiosos.

Em 11 de maio de 2004, a missionária brasileira Elilda dos Santos deixa Moçambique, alegando que estava sendo alvo de "vários métodos de pressão" por parte das autoridades moçambicanas. Por outro lado, Elilda foi convidada para vir ao Brasil depor diante da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o tráfico de órgãos humanos. Antes, esteve em Bruxelas (Bélgica) e Portugal solicitanto apoio europeu.

Fonte: www.meninosdenampula.com

No hay comentarios: