01 enero, 2004

O negócio de orgãos humanos

Francisco G. de Amorim

Não sei se algum dicionário contempla palavra que possa exprimir a nossa indignação perante aquilo que começa a ser uma nova “negociata”: o assassinato de pessoas, normalmente menores de idade, para se lhe retirarem alguns orgãos - fígado, rins, olhos, coração, etc. - e fazê-los depois chegar a “dignas” equipas de cirurgiões, que com eles procuram salvar a vida de um paciente... insensivelmente rico!

Matemáticamente as contas são fáceis de fazer: mata-se um e talvez se salvem três ou quatro; salvando-se sobretudo a equipa cirurgica que, alheando-se da procedência dos orgãos, cobra um nota violenta ao desesperado da morte!

Nalguns locais a miséria é tanta que as pessoas procuram os propagandistas-compradores-intermediários que não matam, mas oferecem uma boa quantia por um rim. Se mais tarde o vendedor que se tornou deficiente tiver um problema renal... estará perdido! Paciência; problema dele; ninguém o mandou vender uma parte do corpo, como quem vende a alma ao diabo!!!

Pobre se pudesse venderia mesmo a alma ao diabo! O que teria a perder? A vida eterna? Para que lhe serve a vida eterna se nesta vida tudo para ele se passa já num verdadeiro inferno? Depois de vendida a alma, um das “condições do contrato” é deixar de rezar, de pedir ao Deus da sua meninice que o ajude.

Pode ser que nesse momento o pobre deixe de se compadecer de si próprio, que se passe a olhar não como um segregado, um marginalizado, mas como um lutador, ganhando forças para comprar a sua alma de volta.

O grande problema, o único problema, é que enquanto houver compradores, ricos, insensíveis, cuja espécie não parece estar votada à extinção, hão-de aparecer vendedores, intermediários, especialistas e até “humanitários” que vão procurar, mediante um gordo pagamento, ajudar a salvar as suas vidas!

E lá estará o miserável, o faminto e até a incauta criança a servirem à sobrevivência da tal espécie que assim se prolonga ad aeternum!

Que moral há nesta sobrevivência? Não seria melhor venderem logo a alma ao demo?

20/01/04

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