12 junio, 2004

A atuação de religiosos na rota do tráfico de órgãos internacional 2

ELNET - Quando a senhora começou a desconfiar que a morte e o desaparecimento de crianças poderiam estar ligadas ao tráfico de órgãos?
Elilda - Tivemos conhecimento na província de Nampula da venda de uma criança e um adolescente por um traficante, em 15 de julho de 2003. Resolvi acompanhar o caso juntamente com os policiais e senti que foram surgindo dificuldades muito grandes na investigação. Quis esclarecer a situação urgente, mas percebi um descaso total.

ELNET – Como a senhora avalia a participação religiosa na solução desse caso?
Elilda – Levamos o caso, primeiramente, ao conhecimento de Moçambique, apresentando provas e testemunhas sobreviventes, mas tivemos que recorrer à imprensa internacional que nos deu a condição de levar o problema a um nível mais amplo. Sinto a responsabilidade sobre mim, mas é um dever de todos nós, independente do credo e da classe social, lutar contra o tráfico humano. Temos que corresponder a nossa obrigação para com a sociedade. É uma situação que ninguém está em condições de cruzar os braços, senão poderá se agravar em todo o mundo.

ELNET – Quanto tempo a senhora ficou em Moçambique e qual o trabalho que realizou?
Elilda – Trabalhei durante nove anos na Missão. Eu era responsável por uma paróquia, onde coordenava o trabalho pastoral de evangelização e acompanhava a área de saúde. Fazia um pouco de tudo. Na questão de saúde, temos um leprosário, que é o centro de referência de todo pais. Em Moçambique, a lepra ainda é muito grave.

ELNET - Vemos que os missionários religiosos (católicos e evangélicos) que trabalham nessa região são bastante unidos. Como é feita esta interação?
Elilda - Temos uma solidariedade muito grande, independente das condições, estamos sempre disponíveis em situações de risco.

ELNET – A polícia nega que a morte da missionária Doraci esteja atrelada com esse caso. Qual a sua opinião?
Elilda – O caso de Doraci tem a ver com o tráfico de órgãos, pois ela tinha conhecimento de casos concretos.

ELNET – É verdade que a senhora sofreu pressões para abandonar Moçambique?
Elilda – Não recebi só ameaças, mas uma série de pressões em nível de governo e até da própria máfia, que é muito poderosa internacionalmente. Pelo visto não se trata do governo local, mas de vários governos, de vários paises. Dizem que há uma certa proteção em não difamar o país ao admitir que há esse tipo de violência.

ELNET – Qual a sua expectativa depois de liderar essas denúncias?
Elilda - Eu creio que é o inicio de uma luta que houve interesse por parte da União Européia e algo de positivo vai acontecer. Confesso que estou surpreendida com a mobilização das pessoas.

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